segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A GUERRA DAS MULHERES


(*Por: Guilherme Benvenuto Mendes)

Soa o sinal. É dado início a batalha. Um exército com cerca de mil mulheres sedentas de sangue marcham desesperadamente rumo ao seu alvo: os balcões de roupas da liquidação total. Todas possuem um lema em mente, se apoderar da maior quantidade possível de peças e acessórios, custe o que custar, doa a quem doer; afinal, vale tudo no amor, na guerra e nas liquidações de peças femininas. Geralmente as grandes promoções são seguidas de cinco atos: Conquista de território, alianças e formação de blocos, pancadaria, chamar reforços e finalmente o apocalipse.

Ao avistarem as primeiras combatentes chegando, alguns compradores e até os funcionários da loja se colocam em posição estratégica: um se esconde atrás do caixa automático, outro atrás de uma vitrine, dois rapazes ficam próximo a uma exposição de peças de carro, um jovem tenta desesperadamente se pendurar no ventilador, sem sucesso, e um senhor de idade tem um infarto – temos a primeira vítima fatal.

E assim dá-se início ao 1° ato. As mulheres mais magras tiram proveito de sua velocidade e tamanho, e passam furando as legiões de guerrilheiras, chegando primeiro as vitrines e balcões. Inútil, já que as mais gordas desferem-lhes uma investida mortal, arremessando à quilômetros de distancia suas adversárias e assim conquistam seu território, afugentando as mais fracas e se encaixando nos balcões, apanhando para si um punhado de peças.Logo um a um dos balcões ficam cercados de senhoras gordas e enormes que não estão para brincadeira. Formando assim os primeiros monopólios.

Inicia-se o 2° ato. Surgem então três blocos: as monopolizadoras, que tiram proveito de suas conquistas territoriais; as excluídas, que reivindicam um espaço entre as vitrines; e o bloco das mulheres de TPM - tocou, provocou, morreu - que não estão satisfeitas com sua situação e nunca irão estar, desejam simplesmente meter a mão na cara da primeira pessoa que lhes aparecer na frente.

O bloco das excluídas se posiciona estrategicamente. Ficam frente a frente com as monopolizadoras. Momento de grande tensão, não se escuta um ruído sequer na loja. Estão todas aguardando o sinal de ataque, que finalmente é declarado, usando o código de batalha entre as mulheres:

-Ei, pirua, essa roupa é minha! Eu vi primeiro!

O conflito se inicia, começando o 3° ato: a pancadaria. A artilharia age com grande velocidade e dispara uma série de tamancos e sandálias voadoras, que fazem as primeiras vítimas do confronto. Rapidamente a munição se esgota que é quando o conflito direto começa. As mulheres mais gordas usam de sua arma mais letal: “a bundada extra G”, enquanto as mais magras apelam para arranhões e puxões de cabelo. Já o bloco das mulheres de TPM sai batendo em qualquer uma sem nem sequer tomar partido na batalha, estas se autodenominam de bárbaras, com orgulho e muita sede de sangue.

Em meio ao conflito, duas mulheres se destacaram pelo empenho com que batalharam. Uma senhora já de idade, cabelos grisalhos e com rugas, puxava o cabelo de outra mais nova e loira, que lhe retribuía mordendo o braço e arrancando gemidos de dor. Ambas disputavam por um lindo suéter, a mais velha queria dá-lo à filha e a mulher loira por sua vez, à sua mãe. Quando finalmente as duas se olharam, foi que perceberam que não passavam de mãe e filha. Muito envergonhadas as duas se abraçaram entre lágrimas.

Em meio à confusão duas mulheres se sobressaíram como líderes. Uma gorda, monopolizadora, de origem alemã, com temperamento instável e um bigode na cara “à La Charles Chaplin” – que dizia existir uma raça ariana, a das monopolizadoras, que por direito divino deveriam possuir todos os estoques de roupas da loja. Já a outra, era magra e de origem russa, muito repressora e severa – dizia que todas eram iguais e mereciam a mesma quantidade de roupas.

As duas líderes decidem dar uma retomada estratégica, para contabilizar as perdas e reagrupar. Chegou a hora de chamar reforços! Cada uma das mulheres sacam seus celulares, das mais sortidas cores e designers, algumas sacam ate dois ou três celulares ao mesmo tempo. Não demora muito para que quase metade da população feminina da cidade esteja presente. Os blocos retomam as suas posições frente a frente, mulheres de todos os tipos e de todos os lugares estavam ali, algumas com olho roxo, arranhões pelo corpo, cabelo desarrumado, maquiagem borrada, salto quebrado e até aleijadas, mas todos com muita sede de sangue.

Uma freira, que pertencia ao bloco das mulheres de TPM finalmente se acalma, e passado o momento de stress, percebe a situação ridícula da qual fazia parte e decide tomar uma atitude. Ela chama a atenção de todas as mulheres ali presentes e, com um gesto, retira as roupas do corpo e as joga no chão, ficando apenas com a roupa íntima. Então exclama:

-Façamos como São Francisco de Assis! Não nos apeguemos a esse materialismo que nos é imposto, vamos jogar as roupas de nosso corpo fora, junto com essas que nos querem vender e façamos uma grande fogueira!

Como resultado: Ergueram-na em um dos balcões e a crucificaram ali mesmo. Suas ultimas palavras foram: “Jesus se sacrificou para salvar os homens, eu humildemente faço o mesmo!” Ela foi “devorada pelo consumismo.”

5° ato: apocalipse. Einstein certa vez disse: “Não sei como será a 3° Guerra Mundial, mas a 4° será de paus e pedras.” Einstein certamente não conhecia a Guerra das Mulheres. A batalha foi histórica. Gritos, ponta pés, estilhaços de vidro, roupas rasgadas, mulheres inconscientes, crianças chorando e muito mais. Não sobrou nada. Nem mesmo as bombas atômicas de Hiroshima e Nagassaki destruíram tanto como uma manada de mulheres durante uma liquidação. Não houve vencedoras, também não sobrou uma peça de roupa sequer. A liquidação fora um sucesso!

Fora da loja algumas mulheres ainda se recompunham e tentavam guardar suas compras no carro. Umas ajudavam as outras sem se importar a qual bloco elas pertenciam e trocavam algumas peças de roupa entre si. Uma monopolizadora e outra excluída ainda trocavam sorrisos e exclamavam uma para a outra satisfeita com as suas compras:

- A liquidação foi um Máximo, mal posso esperar pela do ano que vem, ela promete ser a maior de todas!

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