terça-feira, 9 de setembro de 2014

Aposentando a espada

APOSENTANDO A ESPADA
*MMendes
Vou dormir
 mas não 
sem antes 
pedir perdão 
aos homens 
e mulheres 
que magoei 
com meu poder. 
Mas nada fiz 
com dolo 
ou satisfação 
em ferir. 
Procurei ser justo, 
mas não esqueço 
que a justiça 
dá a cada um 
o que é seu, 
cortando 
com sua 
espada. 
Um dia 
aposentarei 
a espada, 
cultivarei 
flores 
plantarei árvores.

Presente do tempo

PRESENTE DO TEMPO

*MMendes
O tempo passou 
depressa. 
Mas acho que 
eu é que andei 
distraído demais, 
desatento 
aos sinais. 
Como é que 
não percebi 
o surgimento dos 
cabelos alvejados, 
das rugas 
de expressão, 
o tecido flácido? 
Pensando melhor, 
eu ganhei 
tudo isso 
como prêmio 
por ter vivido, 
coisa que 
quem morre 
cedo 
verá jamais.

Pedaços de mim

PEDAÇOS DE MIM
*MMendes
No instante que eu me arroguei
belo luzeiro no mais alto do céu
nesse instante eu cai
me quebrei 
de mim me separei,
filho ali, mãe acolá
o pai nem sei onde foi parar.
Eu não devia ter subido tão alto
não sabia voar.
Depois de me perder de mim
eu que era apenas cacos
precisava de alguém
que me pudesse ajuntar,
soubesse onde me encaixo
me resgatasse do chão
para que eu 
me recebesse de volta.
Então voltei para casa
voltei para o que sou
um igual
nem maior, nem menor
abracei-me com amor
nunca mais vou me deixar.

O coração do poeta


O CORAÇÃO DO POETA
*MMendes

Quanta poesia 
há na alma 
de um poeta? 
Três sonetos, 
uma quarta, 
cinco trovas 
versos sem fim?
Na ponta 
do lápis 
e da língua 
a poesia 
transborda, 
mas é 
no coração 
do poeta, 
que a poesia 
nunca dorme.