segunda-feira, 29 de julho de 2013

Os três espíritos


OS TRÊS ESPÍRITOS
 *Por Marco Mendes
Certa vez meu pai me contou que quando menino, veio da Floresta do Sul estudar em Pres. Prudente, aos cuidados dos avós maternos, a vó Zefa e do vô Pedro.

Nas tramas do destino, minha avó materna faleceu da mesma doença que sua mãe, a vó Zefa. Por isso ela já tinha plena consciência de que não iria se curar.

Gravemente doente, dias antes do falecimento a vó Anita chamou meu pai e fez um pedido:

- Cuide do meu pai. Ele é uma pessoa idosa que mora de favor na casa de meu irmão. Não o deixe sofrer. Nunca o abandone. 

Alguns anos depois de sua morte tive um sonho enigmático. Eu e meu pai estávamos saindo pela porta lateral esquerda da Catedral de São Sebastião. Minha mãe não estava. Na saída vi três espíritos de mulheres. Um era da minha avó paterna, o outro da bisavó Zefa e o outro eu não soube dizer quem era.

- Pai! Olha quem está aqui!. Eu disse.

Mas meu pai parecia estar aflito, apressado e foi embora. Me aproximei dos espíritos.

- Meu filho, diga a seu avô para não se preocupar comigo. Estou muito bem onde estou. 

- Entregue isso a seu pai”. Disse o espírito da vó Anita, oferecendo um ramalhete de flores, formando um círculo dividido em três partes: Um terço vermelho, um terço roxo e um terço branco. Depois disso acordei.

Logo pela manhã fui até a casa do vô Aleixo e dei o recado que fui incumbido. Ao meu pai fiz o desenho do círculo. Meu avô sorriu e meu pai disse que aquilo tudo era invenção de minha cabeça.

Todavia, aquele símbolo ficou martelando em minha cabeça por muito tempo. Muitos anos mais tarde, depois do meu casamento, eu quase tinha esquecido do sonho. Durante o banho uma voz interior iniciou uma conversa comigo:

- Vou te revelar o segredo do símbolo que sua avó pediu para entregar ao seu pai. A cor vermelha é o amor do pai pelo filho, o roxo é o sacrifício que o filho fez por amor ao pai e o branco é a perfeição do amor do dois.

- Da mesma forma que sua avó pediu ao seu pai que cuidasse do pai dela, você também nunca deve abandonar seu pai. Ao final da conversa eu estava muito emocionado e chorei.

Muito tempo depois, durante o sepultamento de minha mãe, fiquei olhando o coveiro preparar a carneira onde seria depositado o caixão. Notei que havia dois sacos pretos com ossos de outras duas pessoas. Depois de fazer algumas perguntas, consultar familiares mais velhos, cheguei a conclusão que eram os ossos da vó Anita e da vó Zefa. Nesse mesmo instante recordei-me do sonho de menino, que me revelava mais um de seus segredos. O terceiro espírito que vi na Igreja, aquele que eu não reconheci, era o espírito de minha mãe, ao lado da vó Anita e da vó Zefa.

É curioso pensar que o tempo é relativo e não há distinção de passado, presente ou futuro para o espírito humano. Muitos e muitos anos antes da morte de minha mãe, em sonho tive uma visão simbólica de que ela seria enterrada junto com minha avó e minha bisavó. Essa união é no mínimo curiosa. Minha avó, a mãe que gerou, a vó Zefa a que cuidou e a minha mãe a que ele amou. Essas três mulheres, as mulheres mais importantes de sua vida, me pediram em sonho para nunca abandoná-lo.

A vida me afastou fisicamente de meu pai. Embora ele sempre esteja em minhas orações, nos falarmos por telefone e pela internet, procuro cuidar para que ele nunca se sinta abandonado e solitário. Mas sei, que além de mim, uma trindade de amor eterno está zelando por ele.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Bodas de Ouro



BODAS DE OURO 


O noivo estava lá no altar, ansioso, ajeitando a gravata. Uma semana atrás esteve internado com uma crise de apendicite e submeteu-se à cirurgia. Quase o casamento não saiu na data combinada. Mas, enfim, chegou o dia e ele estava lá diante do altar, com 8 pontos na barriga.
Os convidados se alvoroçavam. A noiva estava atrasada. Os padrinhos não tiravam os olhos da porta de entrada quando a marcha de Mendelssohn quebra o burburinho. Todos se postam em pé e voltam os olhos para a chegada da noiva. Lá estava ela, com seu vestido deslumbrante, coroa no coque, buquê de rosas brancas nas mãos. Desfilando elegantemente por sobre o tapete vermelho, entrou de braço dado com o pai, embora ele tivesse abandonado a família há anos atrás. Mas, aquele dia não era para o exercício de mágoas ou rancores. Era um dia muito especial. Era nove de fevereiro de 1960, o dia do seu casamento.
Lá no altar, cumpridos os protocolos de entrega da noiva, os olhos dos noivos casaram-se antes mesmo do padre proferir as palavras sacramentais:”Eu vos declaro marido e mulher”.
Permitido beijar a noiva, Lécio descortinou os olhos verdes de Sônia, antes cobertos pelo véu. Olhos de paixão celebrando o amor de juras eternas que o tempo testemunhou.
De repente o chamado de Márcio libera Lécio cujos pensamentos permaneciam presos no passado.
- Pai? Você está bem? Está quase na hora. 
Sônia estava ali, deitada no seu leito de morte, coberta por um véu branco encobrindo aqueles lindos olhos verdes para sempre. Ao retornar para casa, abriu o armário do quarto, abraçou seu vestido azul, sentindo pela última vez seu perfume. Na penteadeira mantinha uma Bíblia e três fotografias de Sônia. Nesse local pediu a Deus pela saúde da mulher durante os três mil seiscentos e cinqüenta dias da doença, que a levou lentamente.
Por força e obra do destino Sônia havia partido para os braços da eternidade no dia nove de fevereiro de 2010, fazendo Bodas de Ouro. Lécio ficou com a aliança de Sônia. Prometeu no segredo de seu coração guardá-la como sinal de seu amor, até o reecontro eterno no outro lado da vida.