quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Rugas do tempo


RUGAS DO TEMPO
*MMendes


Quando olhei para o futuro 

Não me encontrei

Muita névoa obscura

Tudo era possível

mas eu não estava ali.

Olhei para o presente e não me vi

A vida uma correria 

Não sobra tempo para mim

Apenas corpo presente 

Disperso eu também não estou aqui 

Será que foi numa dessas dobras 

De rugas do tempo

Que no passado me perdi? 

Será uma pena se quando me encontrar

Descobrir que envelheci e não vivi

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Pablito, tudo com capricho


PABLITO, tudo com capricho

* MMendes


De posse de vários desenhos impressos em papel, Pablito pôs-se a pintá-los. Pegava as primeiras folhas, fazia apenas alguns rabiscos com os lápis de cor e passava para outro, até que a vovó chamou a atenção:

- Pablito, não é assim que se faz. Você deve pintar preenchendo todo o desenho antes de pegar outro, senão o vovô não vai imprimir mais.

Com amor e dedicação a vovó tomou um dos lápis e se pôs a ensinar o menino como deveria fazer. Logo o menino aprendeu e começou a pintar do jeito que a vovó ensinou. Era a visível a evolução dos trabalhos de Pablito, um melhor que o outro, mais preenchido, mais colorido, obedecendo cada vez mais os limites dos contornos.

Depois de colorir os desenhos Pablito fez uma exposição no chão do assoalho do escritório e foi chamar o vovô:

- Veja vovô, olha como eu pintei bonito. Esses primeiros estão um pouco feios, mas depois eu caprichei. É que eu sou caprichoso!

- Que beleza! Como você se esforçou e melhorou a pintura. Olha, só! Você é mesmo um menino caprichoso. Continue sempre assim.
Pablito vem se esforçando para não pintar fora do risco e pintar todos os branquinhos do papel.

- Vovô, olha que caprichoso! Diz ele mostrando o desenho.

- Aqui saiu um pouquinho para fora. Mas não tem problema, né? No próximo eu capricho mais!

Vovô sabe que o elogio ao talento pode nos encher de soberba e com isso paramos de avançar crendo que atingimos o topo. O elogio ao esforço nos leva cada vez mais longe, porque exige dedicação contínua. A virtude está toda no esforço, disse o escritor francês Anatole France. Podemos superar a falta de talento pelo esmero, mas não há talento que dê jeito no desleixo. Basta lembrar o desfecho da fábula da corrida da lebre e da tartaruga. A tartaruga venceu pelo esforço e a lebre perdeu pelo desleixo, mesmo tendo o talento.

Essa é uma lição antiga, muitas vezes desprezada: “Tudo quanto está ao teu alcance faze-o com esmero”, reza a antiga septuaginta.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Os invisíveis


OS INVISÍVEIS

*MMendes

A vida de Gracinha não era fácil. Seus pais morreram em condições um tanto misteriosas deixando a mocinha com seu filho pequeno. Para criar o filho de quatro anos trabalhava o dia todo e como não tinha dinheiro para pagar uma babá, nem parentes que pudessem ficar com a criança, o menino ficava mesmo era sozinho em casa durante o dia todo. Mas, e os riscos dessa criança se envolver num acidente doméstico, como iria alimentar-se, tomar banho e tudo o mais? Gracinha não tinha tempo para pensar nisso, pois precisava sobreviver a qualquer custo. Estava deprimida, sentia-se abandonada e solitária. A esperança era uma chama quase apagada. Seu futuro se esvaía pelos vãos dos dedos como areia. A vida não tinha muito sentido.

Pedrinho, seu filho, ao contrário da mãe, era um menino feliz, muito feliz. Embora contasse com pouca idade, mesmo com todos os problemas, estava se saindo muito bem. Quando Gracinha saia para o trabalho deixava Pedrinho dormindo. Curiosamente quando Gracinha voltava no final do dia, a casa estava limpa e arrumada. Pedrinho dizia que já tinha tomado banho e se alimentado. Normalmente o menino estava sentado no chão brincando sozinho. Isso despertou a atenção de Gracinha.

- Pedrinho, meu filho, a mamãe fica o dia todo fora trabalhando, como você consegue se virar sozinho com apenas quatro aninhos de idade?

- Ah, mamãe, as pessoas me ajudam o tempo todo.

- Quem, se somos sozinhos nesse mundo?

O menino deu um sorrisinho para mamãe e foi brincar. Sentadinho no chão brincava com seus joguinhos e conversava com seus amigos invisíveis.

- Vem mamãe, vem brincar com a gente!

Mas Gracinha não tinha ânimo para brincar.

Um dia Gracinha foi demitida. Se a coisa estava ruim, agora desempregada ficou muito pior. Como iria sustentar o filho e pagar as contas? Estava desesperada.

A moça chegou em casa esgotada, cansada, desesperançada, deprimida. Deitou no sofá e sem perceber dormiu. Só acordou no dia seguinte. Para seu espanto a cama do filho estava arrumada, a casa completamente limpa, a roupa suja estava batendo na máquina de lavar e o café da manhã estava na mesa.

- Pedrinho, como você conseguiu fazer tudo isso sozinho meu filho? Como foi comprar pão na padaria? E com que dinheiro pagou?

- Ah, mamãe. Meus amigos me ajudam o tempo todo.

Mas para Gracinha a vida não tinha nenhuma graça. Tomou o café da manhã e voltou a dormir. Quando acordou o almoço estava na mesa e a roupa lavada estava secando no varal. Nem o pijama a moça tirou naquele dia.

No jardim dos fundos, Pedrinho parecia conversar com algumas pessoas, mas não havia ninguém ali. O menino corria pelo jardim dando gargalhadas.

- Vem mamãe! Vem brincar com a gente.

- Devem ser os tais amigos invisíveis de Pedrinho! Pensou Gracinha.

Essa estória de amigos invisíveis começou a preocupar a moça, que resolver levar o filho no atendimento gratuito ao público do setor da faculdade de psicologia. Achava que tinha alguma coisa errada com a criança. Depois de esperar uma infinidade de horas para ser atendida, conseguiu finalmente uma consulta para o filho.

Depois de uma entrevista com Gracinha, que explicou que o filho estava tendo um comportamento misterioso e além disso estava dizendo que recebia ajuda de pessoas, que na verdade eram invisíveis, a psicóloga chamou a criança para outra sala e alí ficaram um bom tempo. Depois a profissional abriu a porta e convidou a mãe para entrar novamente.

- Como vão os avós de Pedrinho? Perguntou a psicóloga.

- Eles morreram. Respondeu Gracinha.

- Sabe os amigos invisíveis de Pedrinho? São os avós falecidos.

- Sabe doutora, acho que ele não aceitou a morte dos avós. Ele não chorou, não sofreu.

- E você Gracinha, como está nessa situação?

- Doutora, meus pais morreram no mesmo dia em condições misteriosas. Não sei direito o que aconteceu. Quando percebi estavam mortos. Me deixaram abandonada. Não tenho condições de cuidar do meu filho. Estou enlouquecendo e acho que meu filho também.

- Acho melhor tratarmos você primeiro, Gracinha. Deixemos o Pedrinho para depois. O que você acha?

A moça aceitou o convite da psicóloga. Durante o tratamento, Gracinha acessou uma parte das memórias reprimidas, coisas que não queria lembrar, pois eram duras lembranças. E durante a sessão com a psicóloga entrou em choque, ao descobrir que foi ela própria quem havia matado seus pais, depois de uma severa discussão em casa. Gracinha caiu num choro sem fim e não conseguia se acalmar. A psicóloga precisou chamar o Psiquiatra de plantão para ministrar-lhe um calmante. Gracinha passou horas praticamente sedada, deitada na cama da enfermaria. Acordou aflita a procura do filho. Levantou-se apressadamente, abriu a porta do quarto da ala do hospital universitário e deparou-se com Pedrinho sentado logo ali perto da porta, balançando as perninhas, banho tomado, cabelinho penteado, arrumado, calçado com meia e tênis. Quando viu a mãe deu um sorriso, saltou da cadeira e correu para um abraço.

- Você está bem mamãe? Eu a vovó e o vovô estávamos preocupados!

Gracinha olhou em volta, mas não viu ninguém. Pedrinho estava sozinho.

- Meu querido, o vovô e a vovó não estão mais aqui. Eles estão mortos.

- Não estão não, mamãe. Eles estão sempre aqui comigo, me ajudando, me cuidando, brincando comigo.

Ouvindo as palavras do filho e sabendo a verdade, Gracinha abraçou-o apertado e começou a chorar de soluços. Afinal, quem de fato estaria enlouquecendo?

Pedrinho pegou na mão de sua mãe e a levou até a cadeira onde estava sentado, enquanto a psicóloga e o psiquiatra ficaram olhando os dois a distância.

- Mamãe, venha comigo. Sente-se aqui e feche seus olhos. Respire fundo e creia, o vovô e a vovó estão aqui do seu lado. Então Gracinha olhou para o psiquiatra e para a psicóloga que assentiram com a cabeça. Fechou os olhos, respirou fundo segurando a mãozinha de Pedrinho. Fez-se um profundo silêncio. Depois começou escutar uma voz muito fraquinha, muito distante, cuja intensidade foi amentando aos poucos. A voz dizia:

- Filha? Filha? Abra os olhos, eu estou aqui. Olhe para mim.

- Parece a voz de meu pai. Pensava Gracinha.

Uma outra voz, também fraquinha, se fazia ouvir muito distante.

- Filha? Filha? Abra os olhos, nós estamos aqui. Volte para nós.

- Parece a voz de minha mãe. Pensava Gracinha. Mas Gracinha recusava-se a abrir os olhos, pois estava com medo. Afinal, se tinha matado os pais, teriam vindo os espíritos deles atormentar-lhe? Ou haveriam de denunciar o crime cometido? O que se pode esperar de almas penadas?

E as vozes continuaram a chamar Gracinha, que permanecia imóvel com os olhos fechados, até que sentiu o toque das delicadinhas mãos de Pedrinho.

- Abra os olhos mamãe. Estamos todos aqui.

Quando Gracinha abriu os olhos e viu o espírito de seu pai e de sua mãe, caiu aos prantos, pois se arrependia de tê-los matado. Seu pai se aproximou e afagou seus os cabelos, sua mãe a abraçou enquanto Pedrinho abraçava todos eles de uma só vez.

- Estamos aqui minha filha, não sofra assim. Olhe para nós, somos de carne e osso. Sempre estivemos perto de você. Agora podemos voltar para casa. Você é nossa filha amada.

Por causa daquela severa discussão com os pais, daquele dia em diante o ódio contra os pais penetrou no coração de Gracinha. A moça matou seus pais no coração. Saia e voltava de casa sem dizer uma só palavra, nem se importava mais com os pais. Aos poucos sua mente foi apagando seus pais de sua vida, até o ponto que não pode mais vê-los nem ouvi-los.

Pedrinho foi o portador da esperança, a ponte que religou Gracinha aos pais. Saíram dos hospital e voltaram para casa, afim de recomeçarem a vida em família.

Não temam quem possa roubar-lhe os bens, senão aquele que pode roubar o sentido da vida, que é a vontade de viver. O ódio cega nossos olhos e destrói os laços que nos une, roubando nosso bem mais precioso, que é o respeito e o perdão. Só vê bem que vê com o coração. Um coração puro como de uma criança, um coração capaz de perdoar. Todos nós já tivemos um coração assim um dia, mas muitas pessoas avançam para o futuro esquecendo a pureza da criança no passado. O perdão é o milagre de compreender e aceitar o outro, permitindo que o amor, depois de humilhado e maltratado, possa ressuscitar. As boas lembranças são o balsamo que purifica nossos olhos, permitindo que o amor recebido no passado perdoe os erros cometidos do presente. Amar e ser amado é o que dá sentido à nossa vida. Lembrar que fomos amados nos leva a perdoar as possíveis ofensas de quem verdadeiramente nos ama. A vida não tem sentido se nos esquecermos daqueles que fazem parte da nossa história, da nossa vida. É preciso acordar em tempo. Quantos dias ainda nos resta sobre a Terra? A única certeza é que só temos hoje, só temos o agora para amar. Então não pense duas vezes, não deixe a esperança da reconciliação ser levada pela morte. Faça a experiência do perdão e do amor em vida e plante a felicidade no teu ser.



quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Pablito, a magia do amor



PABLITO, A MAGIA DO AMOR

*MMendes


Pablito estava brincando com um martelinho de plástico e resolveu bater na cabeça do macaco de pelúcia. O macaco reclamou:

- Você me machucou. Pare com isso!
Sem se importar com os reclamos do macaquinho Pablito continuou a bater achando graça em velo gritar e chorar. Embora o macaco pedisse para parar o guri batia ainda mais.

Para quem não sabe, esse macaquinho é o bicho preferido do menino. Esse macaquinho conversa e movimenta-se pelas mãos e voz do vovô, quase como um fantoche. Vovô é, poderíamos dizer, o espírito do macaquinho! Diante daquele comportamento do netinho, vovô resolveu acabar com a brincadeira e parou de dublar o macaco. Vovô disse ao menino:

- A felicidade do macaquinho foi embora e agora ele é apenas um boneco sem vida. O bichinho só voltará à vida se você fizer uma mágica de amor.

Então Pablito apontou o martelinho para o macaco e gritou:

- Abracadabra!

O vovô explicou que mágica de amor é feita de carinho, de abraço e pedido de desculpas. Então Pablito aproximou-se do boneco olhou em seus olhos, pediu desculpa, o abraçou e o beijou e prometeu não mais bater no amiguinho. No mesmo instante o milagre do amor trouxe o macaquinho à vida:

- Eu te amo Pablito, disse o macaquinho.

- Eu também te amo, respondeu Pablito.

Fico aqui a me questionar: De onde vem o prazer sádico de se torturar alguém? Acho que a culpa foi do martelinho que Pablito segurava em sua mão. Apoderar-se de armas fatalmente nos conduz à violência e à guerra. Como disse Shakespeare, às vezes, a simples visão dos meios para fazer o mal, faz com que o mal seja feito.

Mas, quando Pablito viu-se na iminência de perder seu amigo, abdicou do poder para suplicar-lhe perdão e declarar seu amor. O gesto do menino reacende a esperança de que um dia o homem deixará de ser o senhor da guerra parar tornar-se o príncipe da paz.

O macaquinho ensinou ao Pablito que a violência, seja ela qual for, nos rouba a felicidade, os amigos e leva embora o prazer de viver. Gandhi afirma que que embora a violência seja da natureza humana, precisamos manter a não-violência como nosso objetivo e progredir fortemente nessa direção.

Os inseparáveis amigos demonstraram que o verdadeiro amigo é aquele que sabe pedir perdão, assim como o verdadeiro amigo é o que sabe perdoar.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Pablito, o amigo invisível


PABLITO, O AMIGO INVISÍVEL

*MMendes

- Lobo mau não existe né tio?

O titio para sacanear fala:

- Existe sim! Então o que é isso atrás de você?

O menino olha para trás e, onde não havia absolutamente nada, afirma para espanto do titio:

- Ah, titio, não é lobo não, é só meu amiguinho.

Em seguida Pablito começou a correr chamando seu amigo imaginário para brincar:

- Corre Theeham, corre Theeham.

Como disse Fernando Pessoa, “a vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos”. O poeta nos diz que vemos o mundo a partir de nós mesmos, interpretando tudo a partir daquilo que somos. Não vemos o que é invisível aos nossos olhos, embora o invisível esteja ali à nossa frente.

Pablito parece discordar disso. Ao criar seu amigo imaginário, estava exercitando ver o mundo com os olhos do outro.  As crianças parecem saber intuitivamente que ao lado do mundo visível, há um outro invisível que o completa. Que as aparências enganam. Onde dizem haver um lobo pode haver um amigo.

O lúdico surge quando o expectador empresta à obra seus próprios sentimentos, emoções, pensamentos, crenças, que são os elementos invisíveis que completam a obra e sem o qual ela é morta.  A vida da obra é a vida do expectador.

As crianças têm um poder incrível de criar situações novas e se colocarem dentro delas num jogo de faz-de-conta. São os seres mais poderosos do mundo, capazes de transformarem-se a si mesmas, mudar de identidade, passar da ficção à realidade quantas vezes quiserem, além de buscar cúmplices para seus jogos fantásticos. O cúmplice escolhido nesse caso foi o Titio.

Para aqueles que não creem em Deus, aqui reside uma grande lição. Deus não pode ser encontrado na superfície da realidade “visível”. Para descobri-lo é essencial mergulhar no mundo invisível. Como disse o Pequeno Príncipe, “o essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração”.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Pablito, o palavrão


PABLITO,  O PALAVRÃO

*MMendes


Outro dia Pablito apareceu com um palavrão feio na boca.

- Pablito onde você aprendeu isso? Essa é uma palavra muito feia. Repreendeu vovô.

- Essa palavra é feia vovô?

- Sim, é muito feia.

Então Pablito tentou arrumar um jeito de falar a palavra sem reprovação…

- Vovô?

- O que foi Pablito?

- @#%* é mesmo uma palavra feia, né vovô?

Então vovô o interrompeu dizendo:

- Pablito! Essa palavra é tão feia que não pode pronunciá-la de jeito nenhum. Se quiser se referir a ela diga apenas “aquela palavra”, mas não diga seu nome! A criança ficou olhando vovô sem saber qual a razão daquela palavra ser tão feia. Afinal, ele nem sabia seu significado.

- E garela, posso falar garela?

- Sim Pablito, garela pode falar.

- Que garela… que garela… que garela. Disse o guri compulsivamente. Só por Deus!

As crianças são grandes manobreiras e inventoras de palavras. Reescrevem as leis da gramática fazendo suas próprias regras. Dão significado àquilo que não existe e podem dizer palavras que nunca foram ditas. Com suas palavras novas e inventadas desafiam nosso pensamento a cada dia. Arrumam e desarrumam palavras até que possamos lhes dar algum significado.

Pensando bem, as palavras são só representações simbólicas daquilo que expressamos em nosso ser. O que verdadeiramente fala em nós são nossas intenções, nossos pensamentos, nossas emoções, nossas ações. Um autor desconhecido já disse que todas as palavras são mentirosas, até que as atitudes provem o contrário.

Depois de um tempo vovô perguntou ao Pablito o que significava “garela”. Com a inocência própria das crianças ele respondeu:

- É apenas uma palavra bonita, uma palavra pequenininha que não é um palavrão!

A sabedoria do netinho fez vovô sorrir. Como disse William Shakespeare: “Seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas palavras”.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Pablito, brincadeira de cabaninha


PABLITO, BRINCADEIRA DE CABANINHA.

*MMendes

- Senhor Macaco, o dinossauro vem vindo?

Pablito conversava com um macaco de pano embaixo da cabana construída pelo lençol da cama levantado pelas pernas do vovô. Dentro da cabana vovô segurava o macaco, que ganhava vida por suas mãos e voz. Esse macaco era uma espécie de relíquia de família. Ele pertenceu à mamãe do Pablito, que ganhou do vovô quando ainda era criança. Muitas vezes o vovô brincou de cabaninha com a mamãe quando ela tinha a idade do Pablito. A vida é assim, vai e volta. Acho que é por isso que dizem que avô é pai duas vezes.

- Acho que ele está chegando! Sussurrou vovô pela vez do macaco.

- O dinossauro achou a gente!!!!! Gritaram vovô e Pablito assim que a vovó levantou o lençol, para entregar a mamadeira ao netinho.

Pablito pegou a mamadeira do dinossauro, digo vovó, e começou a mamar. Vovô o cobriu e lhe deu um beijinho de boa noite. A brincadeira da cabana é uma daquelas que o Pablito adora. Um antigo provérbio escocês afirma que “o perigo e o prazer andam de mãos dadas”.

Há nessa brincadeira um valoroso aprendizado: “Não deixe o medo te dominar, enfrente-o com coragem, pois do outro lado do pano que cobre nossos olhos há uma verdade que é libertadora”.

“As pessoas têm dificuldade de abandonar seus sofrimentos. Por medo do desconhecido, elas preferem sofrer com o que é familiar”, disse Thich Nhat Hanh, monge tibetano. Quando enfrentamos o medo temos a chance de ir além, atravessar o horizonte da segurança, caminhar pela estrada da coragem e vencer o desconhecido. Aquele que recua diante do medo nunca verá nada de novo.

A brincadeira entre crianças e adultos é uma espécie de jogo que pressupõe igualdade entre os jogadores. O lúdico ajuda as crianças abrirem um espaço no mundo, a exercitarem seus aprendizados e construirem suas identidades. Mas, sem dúvida, para os adultos a brincadeira ajuda a não envelhecer, a encontrem graça na realidade da vida as vezes é tão dura. Como disse o médico americano Oliver Wendell Holmes “Nós não paramos de brincar porque envelhecemos, mas envelhecemos porque paramos de brincar”.

Obrigado meu netinho, por não me deixar envelhecer!

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Pablito, a bitoca

PABLITO, A BITOCA 
*MMendes


Pablito é uma criança muito carinhosa. Na escola ele abraça e beija os amigos todos os dias antes de ir embora. Alguns resistem, trancam o rosto, cruzam os braços. Mas Pablito nem liga, vai lá abraça e beija do mesmo jeito. Outros, assim como o Pablito, adoram abraços e beijos e o recebem de braços abertos e beijos estalados.

Quando Pablito chegou na natação, encontrou uma amiguinha da escola. Ela estava começando na natação na turma do Pablito naquele dia. Quando se viram se abraçaram e riram muito todo o tempo. No final da aula depois de se trocarem a amiguinha gritou.

- Pablito, vem me dar um abraço!

Pablito saiu correndo, abraçou a menina e deu-lhe uma Bitoca ... um beijo! As mães que estavam ali por perto caíram na risada. Pablito e a amiguinha sentiram-se no centro do palco da vida e a plateia aplaudia a cena.

Na sequência daquele ato improvisado, assustada com a reação das pessoas a coleguinha encolheu-se envergonhada, enquanto o Pablito tal qual um cavaleiro em defesa de sua donzela, enfrentou todos com os olhos, esbravejando como um tiranossauro:

- Rhuuuuu !!!!

A jornalista e humorista Helen Rowland afirma que um homem rouba o primeiro beijo, implora o segundo, exige o terceiro, recebe o quarto, aceita o quinto, e suporta os restantes. Então com certeza a vida do Pablito será feita de abraços e beijos. Sorte dele.

Ao final, com toda certeza aqueles coraçõezinhos suplicavam um ao outro: “Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho” (Mario de Quintana).

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Pablito, as mãos dos meus avós

PABLITO, AS MÃOS DOS MEUS AVÓS

*MMendes


Os avós de Pablito viajaram para visitar seus pais na cidade natal. É importante que não esqueçamos nossos pais, pois é lá que fincamos nossas raízes, por onde corre a seiva que nos da sentido de onde viemos e para onde vamos. Como é bom encontrar nossos pais, poder beijar-lhes o rosto e as mãos.

Como são belas as mãos de nossos pais, com suas grossas veias azuladas sob a pele manchada como por gotas de terra. Mãos que no entardecer da vida possuem muito mais luz do que outrora. Luz que emana das mãos de quem juntou gravetos, longamente, tentando acendê-los contra o vento. “Ah, Como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das tuas mãos”, disse Mário Quintana.

Depois de três dias e meio de viagem vovô e vovó retornaram. Quando Pablito os viu, correu para dar um abraço apertado na vovó. Com os braços enlaçados em seu pescoço permaneceu por um longo tempo com a cabeça recostada em seu ombro. Depois fez a mesma coisa com o vovô. Há gestos que não se traduzem totalmente em palavras, mas se o gesto do netinho pudesse falar, diria: “Por que demoraram tanto? Que saudades eu fiquei! Pensei que nunca mais iriam voltar”.

Como se lesse o coração do neto, vovô respondeu:

- Eu também fiquei morrendo de saudades de você, meu querido.

Pablito deu um sorriso e chamou vovô para brincar com seus dinossauros no quarto de brinquedos. Foram todos para lá. Sentado no meio dos avós, Pablito uniu as mãos do vovô e da vovó em seu colo:

- Vovô e vovó, vocês me “aprotegem”?

- Vovó, eu amo sua mão! Vovô, eu amo sua mão, também.

Então os dois abraçaram o netinho e o encheram de beijos. Precisava ver a carinha de felicidade da criança. E dos avós então?

À medida que envelhecemos descobrimos a razão de termos duas mãos. Uma é para servir a nós mesmos, a outra para oferecer aos netos. Quando oferecemos nossas mãos, no fino tear do destino misturamos nossas próprias vidas. Acho que foi imbuída desse sentimento que Cora Coralina escreveu “nas palmas de tuas mãos leio as linhas da minha vida”.

Como é boa essa experiência de ser avô. Nesse tear da vida eu ainda sinto o calor da chama das mãos de meu avô e de meu pai segurando a minha mão, eu segurando a mão de meu neto, para que o fogo do amor arda continuamente sobre o altar da vida e nunca se apague.

sábado, 21 de maio de 2016

Pablito, troca de papéis

PABLITO, TROCA DE PAPÉIS. 

*MMendes


Pablito pediu ao vovô que também se sentasse no chão do quarto de brinquedos e lesse um livro sobre a vida dos dinossauros. Vovô até começou ler, mas logo depois do almoço o corpo sofre uma espécie de torpor. Acometido daquela leseira vovô deu uma parada na leitura...

- Vovô, o que foi? Perguntou Pablito.

- Ah, Pablito, me deu sono meu querido. Disse vovô fechando o livro e deitando-se ali mesmo no chão.

Então Pablito levantou-se, pegou o travesseiro que estava sobre o sofá e acomodou cuidadosamente a cabeça do vovô. Depois chegou perto e deu-lhe um beijo no rosto.

- Durma com os anjos vovô. Quanto você acordar a gente continua.

O coração do vovô sem encheu de ternura. Pablito estava cuidando do vovô. É como disse Madre Teresa: “Ao cuidar do outro, ofereça-lhe também o vosso coração”. Aquele que nos olha com amor, lembra-nos a todo instante que temos valor. O cuidado nasce justamente do sentimento de pertença, que é o respeito à comunhão que todas as coisas entretêm entre si e conosco. Assim como o coração do vovô estava com o neto, o coração do neto também estava com o vovô.

Vovô e Pablito estavam ali vivendo papeis opostos. O vovô recebendo o cuidado e o Pablito cuidando do vovô. Ali puderam se conhecer mais profundamente. O vovô sabia agora como se sentia o netinho quando recebia seu cuidado e o Pablito sabia como fazia bem ao vovô cuidar do netinho.

Viviam na realidade a poesia de Jacob Levy Moreno: “E quando estiveres próximo tomarei teus olhos e os colocarei no lugar dos meus e tu tomarás meus olhos e os colocarás no lugar dos teus. Então te olharei com teus olhos e tu me olharás com os meus”.

Agora eu sei meu netinho, que o gosto do amor que eu te dou tem um sabor inconfundível de estar repleto de felicidade.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Pablito, alma de poeta

PABLITO, ALMA DE POETA

*Por MMendes

- Espere um pouco. Disse Pablito correndo para detrás da parede da passagem lateral da sala de estar.

- Vovô, agora você me apresenta!

- Senhora e Senhores, vovós e mamães, agora com vocês, Pablito o grande poeta! Anunciou vovô apresentando a neto, que correu para lance mais alto da sala e começou a declamar a poesia, As Borboletas de Vinícios de Moraes, que havia aprendido na escola.

No final daquela tertúlia Pablito gritou:

- Vem vovô, me dá um abraço! Os dois se abraçaram e rodopiaram pela sala festejando a vida.

Através da poesia o menino transformava a palavra em brinquedo. Na poesia o que importa não é a realidade, mas a imaginação que se pode despertar com o jogo de palavras. Pablito encheu a sala da casa do vovô de luz, borboletas brancas, azuis, amarelas e pretas.

Quem planta amor atrai mesmo borboletas, pensava vovô, concordando com Walter D. Elhers quando disse: “Não corra atrás das borboletas; plante uma flor em seu jardim e todas as borboletas virão até ela”. Vovô saboreava os frutos do amor vivido no ambiente familiar e regozijava-se com as borboletas declamadas pelo neto.

Quando somos amados é mais fácil aprender amar. Longe de ser um sentimento, amar é uma visão do outro e do mundo, capaz de acolher todos e fazer o bem a cada um. Quando amamos transformamos tudo o que tocamos. Chaplin traduziu a modernidade como o mundo que precisa muito mais de humanidade do que tecnologia. De fato, necessitamos mais da poesia, da afeição e doçura, do que de inteligência racional, pois sem essas virtudes, o futuro estará perdido e a vida será pura violência.

Amar não é fácil! A melhor explicação sobre as dificuldades e vantagens do amor é aquela que a flor deu ao Pequeno Príncipe na obra de Antoine de Saint-Exupéry: “É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas”.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Pablito, a barba do meu avô

PABLITO, A BARBA DO MEU AVÔ
*Por MMendes


- Vovô, e essa barbinha aqui? Disse Pablito tocando a barbinha logo abaixo do lábio inferior do avô.

- E essa barbona aqui? Disse o netinho acariciando a barba do vovô com as mãozinhas. Em seguida, começou a beijar e beijar e beijar a barba do vovô. Depois abraçou-o e ficaram ali abraçados por algum tempo.

Há quem sustente que a barba disfarça os pontos fracos do rosto, faz o homem parecer forte, com um ar mais maduro, sofisticado e viril. Curiosamente a barba parece nos dar todos os anos que não iremos de fato conseguir em toda uma vida. A barba sempre foi símbolo de honra e sabedoria. Deuses, heróis e sábios da antiguidade são representados com barba.

Sem palavras, aquele abraço de Pablito dizia tudo isso. E mais, o abraço de Pablito parecia dizer: “Conserve Deus a vossa abençoada barba, para que cada fio de tua barba seja minha proteção, meu aconchego, minha alegria”.

Acho que a barba do vovô despertou memórias coletivas compartilhadas entre os dois. Dizem que as memórias coletivas são herdadas e compartilhadas a partir da relação com o outro. Então vovô lembrou-se de seu avô Aleixo, o trisavô do Pablito, que depois de escapar de um grave acidente de carro deixou a barba crescer. Enquanto Pablito abraçava o vovô, vovô também abraçava em espírito seu avô.

Naquele momento especial o coração de vovô declamou em oração um poema de Shakspeare: “A longa distância apenas serve para unir o nosso amor. A saudade serve para me dar a absoluta certeza de que ficaremos para sempre unidos”. Aquele gesto do neto abriu espaço para um especial momento de amor entre netos e avôs.

Obrigado meu netinho, por esse momento tão íntimo e especial. Obrigado por me fazer sentir no teu abraço, o abraço do meu querido avô.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Pablito, história de pescador

PABLITO, HISTÓRIA DE PESCADOR

*MMendes

- Eu quero ir pescar. Disse Pablito desligando o telefone. Pablito iria viajar para visitar o bisavô, que prometeu ao bisneto que fariam uma pescaria.

Na semana que antecedeu a viagem Pablito contou e convidou todo mundo para a pescaria.

- Leandro, você pode ir pescar comigo. Vou pescar um tubarão enorme! Convidou até o porteiro na saída da escola.

Finalmente chegou o dia. Depois de uma longa viagem, ao entrar na sala da casa do bisavô Pablito deu de cara com um calendário de parede com vários peixes desenhados.

- Eu vou pescar aquele peixe de botão! Apontava o guri para o desenho do Tucunaré. O Tucunaré possui manchas que no desenho lembravam botões.

- E você vovô, vai pescar qual? Aquele de bigode? Apontou para o Pintado.

Estava mesmo entusiasmado com a pescaria. No dia seguinte, logo pela manhã Pablito, vovô, a vovó e o bisavô foram até o pesqueiro Zóio D´água, onde alugaram varas de pesca. O bisavô preparou as iscas, ajudou o bisneto a içar a linha. Depois de uns minutinhos...

- Ué vô, cadê o peixe? Perguntou.

- Para pegar o peixe tem que ficar segurando a vara quietinho, esperando até que o peixe fisgue a isca. Ensinou o bisavô.

O menino estava aprendendo uma grande lição. Para pescar o peixe é preciso tempo e paciência. O escritor russo Leon Tolstoi afirmara que de todos os guerreiros, o tempo e a paciência são os mais poderosos oponentes, o tempo tentando desanimar a paciência e a paciência esperando passar o tempo. Ao final a paciência usa o próprio tempo, que com seu poder mágico a tudo cura, fazendo com desapareçam as dificuldades e dissolvam-se os obstáculos.

Isso nos leva a recordar o experimento de marshmallow, cujos estudos comprovam que as crianças que aprendem esperar tendem a resistir mais às tentações, apresentarem melhor desempenho escolar e êxito na vida.

Enfim, num ato de sorte de iniciantes, Pablito fisgou um peixe. Acho que nós consideramos mais a boa sorte do pescador do que a má sorte do peixe. Não sei se poderíamos chamar mesmo de sorte, pois a boa sorte é justamente o que acontece quando o planejamento encontra a oportunidade, e o Pablito havia planejado essa pescaria por uma semana.

Precisavam ver a alegria do guri segurando a vara de pesca, enquanto o peixe resistia bravamente. O mais engraçado foi depois, escutar o Pablito contando como foi a pescaria.

- Que tamanho foi o peixe que você pescou Pablito? Perguntavam.

O menino respondia:

- Desse tamanho! Dizia abrindo os bracinhos exageradamente, sob o olhar sorridente do bisavô. Com certeza, um pescador reconhece outro pescador de longe.




sábado, 16 de abril de 2016

Pablito, o presente da felicidade



PABLITO, O PRESENTE DA FELICIDADE.

* MMendes

- Vovô, vovô! Gritava Pablito em direção ao mezanino.

Diante da insistência, vovô que estava no quarto do andar superior, respondeu:
- O que é Pablito? O que aconteceu?
O guri estava aflito e gritava sem parar.
- Desce aqui vovô, vem ver os dinossauros!
Vovô desceu depois de algum tempo. O menino esperava ao pé da escada com dois novos dinossauros nas mãos. Eram presentes da tia Tânia pelo seu aniversário, entregues pelo correio.
- Olha o que eu ganhei! Vem brincar comigo.
Não deu tempo nem mesmo do vovô tomar o café da manhã e lá foi ele com Pablito brincar com os novos dinossauros. O bom avô é aquele que pensa e age com o neto como se fosse da mesma idade dele.
De pequenos momentos é feita a vida, que quando compartilhados com as pessoas que amamos, se tornam momentos inesquecíveis. O netinho nem desconfiava, mas era o vovô quem havia ganhado o maior presente, a felicidade de viver a alegria do neto. Pablito adorava estória com final feliz... “e viveram felizes para sempre”. Por isso, com certeza, ambos eternizaram aquele momento na memória.
Pessoas felizes irradiam alegria, lembram do passado com gratidão, vivem satisfeitas com o presente e olham sem temor para o futuro. Vovô e netinho trocavam felicidade e por isso viviam a fantasia da vida com muita alegria. Pablito com seu coração e sabedoria de criança já sabia a lição, que muitos mestres demoraram uma vida para aprender. A felicidade repartida com o próximo dura para sempre. Parabéns meu neto, o vovô está sempre aprendendo com você.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Pablito, eu quero ser médico!

PABLITO, EU QUERO SER MÉDICO!

*MMendes

Pablito tomou nas mãos um barbantinho, dependurou no pescoço como se fosse um colar e com os dedinhos juntou as pontas e encostou no peito do vovô como se auscultasse o coração.

- Eu sou o dr. Pablito!

- Você é o dr. Pablito? Perguntou o vovô admirado.

- Sim. O dr. Pablito. Respondeu. Pegou um palitinho e deu uma injeção no braço do vovô.

Passado umas duas semanas o vovô deu de presente para seu neto um kit de médico de brinquedo, com estetoscópio, injeção, um termômetro e um copinho de remédio. Precisava ver a felicidade da criança.

Assim que abriu o presente colocou o estetoscópio e pediu para que o vovô se abaixasse. Escutou o coração, deu injeção no braço, no bumbum, fez o vovô tomar remédio, aferiu a temperatura. Isso tudo umas duzentas vezes.

No dia seguinte, quando o vovô foi buscá-lo na escola, Pablito deu um pulo no colo e olho no olho fez um convite:

- Quando a gente chegar em casa vamos brincar de doutor?

E tão logo chegaram começou tudo outra vez: auscultar coração, injeção no bumbum, termômetro debaixo do braço, copinho de remédio. Fez isso com o vovô, com os bichos de brinquedo que estavam ali ao lado e até com o Romeu, o cachorrinho da família. Vida de médico não é fácil!

- Vovô, sua febre está “quatro horas”. Disse o guri olhando para o termômetro de brinquedo.

Ao aplicar a injeção no vovô, com sua fisionomia sorridente e cheia de esperança, fez acompanhar o tratamento de um beijo no rosto e um abraço.

- Pronto! Já passou vovô, não vai doer mais. Viu? Agora você sarou.

A técnica de Pablito para aliviar a dor com um beijo e um abraço é um desses casos raros em que a mentira se torna uma virtude. Se Pablito vai ou não ser médico, só o futuro o dirá. Mas, de alguma forma ele sabia que o melhor médico é aquele sabe infundir no paciente a esperança da cura. E se sabia isso, já estava aprendendo a amar.

Como disse o filósofo Goethe “só é possível ensinar uma criança a amar, amando-a”. E amor era justamente o que vovô sabia dar.

sábado, 2 de abril de 2016

Pablito, o doce da vida



PABLITO, O DOCE DA VIDA


* MMendes
A porta do escritório abriu-se com toda fúria, dando passagem a uma pequena criatura que se escondeu debaixo da mesa com dois pirulitos na mão.

- Pablito! Agora o vovô não pode brincar, estou trabalhando.

- Eu tô escondido. Descobri onde a vovó esconde os pirulitos. Sussurrou o menino ofegante.

- Para de trabalhar e vem aqui comigo debaixo da mesa.

- Mas Pablito, o vovô tem que fazer esse trabalho aqui no computador. Não posso brincar agora.

- Mas vovô, eu trouxe dois pirulitos, uma para mim outro para você. Insistiu o guri.

Não teve jeito. Vovô salvou o texto no computador e correu para debaixo da mesa do escritório. É verdade que teve que ficar encolhido, mas isso foi a alegria do neto. E ficaram lá chupando pirulito por algum tempo, até que a vovó os descobriu.

- O que vocês estão fazendo ai embaixo da mesa? Inquiriu a vovó.

Os dois deram muita risada e a vovó não entendia nada, até que notou a língua vermelha do neto e viu os papeis de pirulito jogados no chão.

- Ah seus dois malandros, estão ai chupando pirulito, né?

Depois que a vovó se retirou, vovô e o neto continuaram ali dando gargalhadas por mais uns minutos.

Afinal, nem só de trabalho vive o homem, pois existe vida além! O trabalho é apenas uma pequena parte no mundo da vida. Se é pelo trabalho que produzimos o que consumimos, é no mundo da vida que produzimos a própria vida e todos os valores sociais, morais, espirituais e familiares com que organizamos e damos significado ao próprio trabalho. Trabalhar para que afinal, se não for para viver melhor?

Esse meu doce netinho e seus ensinamentos profundos com sotaque de criança. As vezes precisamos parar o trabalho para sentir o doce da vida. Como dizia Nietzche: “A vida mais doce é não pensar em nada”.

terça-feira, 29 de março de 2016

A ciência do amor

A CIÊNCIA DO AMOR
*MMendes
Ainda que cavasse no coração do mundo, 
o bem lá não encontraria. 
Ainda que pudesse navegar nos confins do universo, 
ainda assim, o bem lá não estaria.
Se que a ciência tivesse o poder de tudo alcançar, 
nem mesmo assim com o bem esbarraria.
O bem não está naquilo que se pode ter ou agarrar. 
O bem é uma forma de ser, 
reside na sutileza do sentir e do olhar.
E sem o bem não há beneficio, 
pois o bem é o ofício,
o que transforma toda descoberta 
na ciência do amar.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Pablito, uma Páscoa generosa



PABLITO, UMA PÁSCOA GENEROSA

*MMendes

Assim que o carro estacionou na garagem, Pablito veio correndo e pulou no colo do vovô. Em meio aos abraços, cosquinhas e risadas, vovô disse ao neto:

- Você não advinha quem eu encontrei! O coelhinho da Páscoa!

- Onde vovô? Onde ele estava? Perguntou arregrando os olhinhos de espanto e surpresa.

- Lá perto do mercado. E sabe o que ele me falou? Que vai te trazer um delicioso ovo de chocolate branco. Pablito adora chocolate branco.

Pablito passou a língua nos lábios e disse:

- Delícia! Quando vovô, quando ele vai trazer?

- No domingo de Páscoa! Disse o vovô.

Então foi com o netinho até a dispensa, pegou uma caixa de sapatos e juntos encheram com pedados de papel picado. Era o ninho do coelho, onde ele deixaria os ovos.

Na noite do sábado vovô e vovó puseram os chocolates na caixa sobre a mesa da sala de estar. Tão logo acordou no domingo, Pablito foi conferir o ninho e deu um grito de alegria ao ver um ovo de chocolate branco. Junto com esse ovo havia outros três chocolates, que Pablito distribuiu generosamente para a mamãe, para o titio e para a vovó.

- Ih! Acho que o coelho esqueceu-se de mim. Disse o vovô.

- Não vovô, não esqueceu não. Esse ovo é para mim e para você. Disse Pablito consolando-o. Abriu o ovo, partiu um pedaço e com um largo sorriso ofereceu para o vovô, que abraçou o neto e agradeceu a oferta.

A Páscoa é sem dúvida uma época muito especial. Mistura a magia do coelho e o sabor do chocolate ao mistério da ressurreição de Cristo, tudo amarrado pelos laços de família. É tempo de renascer, reaprender a viver. Como é bom testemunhar a generosidade brotar como um delicioso bombom saído do ovo da vida, entregue pelas mãos de uma criança, com o firme propósito de redimir os homens da velha e conservadora ganância. Feliz Páscoa Pablito. Será um grande homem.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Pablito, o suor da benção

PABLITO, O SUOR DA BENÇÃO
*MMendes

Na missa o padre convocou a assembléia de fieis para o lado de fora do templo, para o início da procissão do Domingo de Ramos. Pablito estava no colo do vovô à sombra do telhado da varanda. O sol estava escaldante e o suor escorria do rosto de muitas pessoas, principalmente do padre.

Em determinado momento o padre tomou o aspersório nas mãos e começou a aspergir água sobre as pessoas. Várias gotas caíram no rosto do Pablito. O menino não entendeu porque o padre Aldir molhou as pessoas. Fitou o vovô com olhos de interrogatório.

Nesse momento, uma mulher que estava ao lado percebeu o espanto da criança e disse:

- Agora você está abençoado! 

Então Pablito virou para o vovô, enxugando o rosto com as mãozinhas disse: 

- Vô, agora eu tô bem suado!

Ah, meu netinho. Teu coração de criança te revelou grande sabedoria que só os puros de coração podem alcançar. 

Teu pequeno coração se abriu para receber de graça que existe uma forte relação entre a benção e o suor. Quando crescer e disser “com meu próprio suor eu me formei na faculdade”, ou ainda, “eu conquistei isso às custas do meu próprio suor”, não se esqueça que atrás do teu esforço e do teu suor, muitas bênçãos te foram enviadas por Deus, entregues pelos anjos que Deus colocou ao teu lado. Então proclame sempre assim: “eu conquistei tudo isso com meu esforço e com meu próprio suor, graças às bênçãos de Deus e aos anjos que me conduziram”.

domingo, 20 de março de 2016

Juízo final




Juízo Final
*MMendes

Não há mais como esconder o mal
ele está aí escancarado afinal.
Com a espada afiada da justiça 
foi ferido mortalmente o lobo 
que estava a saquear nosso país
encantando muitos com sua canção
sob aparência de frágil ovelha 
bebia todo o sangue da nação.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Pablito pão e vinho


PABLITO PÃO E VINHO

*MMendes

- Essa não é a nossa igreja, né vovô?

- Sim, estamos numa outra igreja. Por que está perguntando Pablito?

- É que o papai do céu está muito escuro lá em cima. Eu não consigo ver o seu dodói. Disse o menino.

Vovô e Pablito foram à missa numa outra igreja. Atrás do altar havia um Cristo crucificado esculpido em madeira escura. Realmente não dava para ver claramente os ferimentos. Na outra igreja que Pablito frequentava havia uma imagem em gesso onde os ferimentos eram muito mais vivos. A imagem do Cristo crucificado é mesmo chocante. Impressiona por mostrar como nós humanos podemos ser malvados e muito cruéis. Então o vovô levou Pablito mais perto do altar onde ele pode conferir os ferimentos.

- Quem fez isso com o papai do céu? Perguntou a criança.

- Foi o homem? Respondeu vovô.

- Onde está esse homem vovô? Inquiriu o menino indignado.

Sem saber como responder aquela pergunta tão profunda e complexa vovô resolver resumir:

- O homem que fez isso está no mundo.

- No mundo? A palavra mundo não fez muito sentido para Pablito. Então vovô resolver resumir mais um pouco.

- No mundo, isso é, ele está lá fora. No mundo. Entendeu?

Nesse momento Pablito olhou para um homem que estava encostado no batente da porta de entrada e perguntou:

- Foi aquele homem ali? A coisa estava ficando complicada para o vovô.

- Não querido! As pessoas que estão aqui e também aquele homem que está na porta não mataram Jesus. O homem que fez isso está lá fora da igreja, mas não se sabe quem ele é e nem onde ele está. Só o reconhecemos quando vemos ele praticando sua maldade. Disse vovô tentando descompactar em vão o resumo.

- Vovô, eu preciso encontrar quem fez isso com Ele!

Todo coração puro de criança quer tirar o Cristo da cruz, saciar sua fome e sua sede. Há meu amiguinho, quando descobrir que o inimigo é interior poderá encontrá-lo. E quando com ele tiver aquela conversa difícil, perdoe-o, pois assim poderá perdoar-se também. Perdoando-se mutuamente, você e teu inimigo convertido poderão tirar os cravos das mãos e dos pés do Cristo e cuidar de suas feridas.

terça-feira, 8 de março de 2016

Pablito, o contador de estórias

PABLITO, O CONTADOR DE ESTÓRIAS

*Por MMendes

Pablito nasceu escutando as estórias do vovô. O menino é um grande desafio à imaginação. Contos da Carochinha? Qual nada. Está mais para Pablito mil e uma noites. Pede estórias mil. O problema é que não são estórias já contadas, gosta daquelas inventadas. O menino dá o tema e toca o vovô sair correndo atrás de ideias para tecê-las na imaginação e contar uma estória inédita. Sabe, daquelas que nunca foram contadas? Pois é, essas mesmo!

- Vovô, conta a da menininha que tinha medo do Bicho Papão. Agora conta a historinha do cavalinho que tinha medo do dragão. Vai seguindo um rosário de temas com um elemento comum, o medo. Exige estórias ilustradas com palavras, gestos, sons e muito, mas muito medo. Contudo, no final tem que terminar com “e foram felizes para sempre”. Se as estórias forem água com açúcar, logo interrompe e pede outra. Tem que ser cheia de energia, vibrante. A sorte é que o vovô também cresceu ouvindo estórias de seu avô Aleixo. Por isso aprendeu improvisar bastante e explorar a imaginação de seu neto.

Na sexta-feira Pablito retornou eufórico da escola. Saiu correndo com um livrinho nas mãos.

- Vovô, olha só o que eu ganhei! Um livrinho de estorinha. A professora explicou ao vovô que todos os alunos haviam recebido um livrinho e na segunda-feira um deles seria sorteado para narrar aos coleguinhas.

Assim que chegou em casa, mal deixou a mochila num canto, lançou mão do livrinho e convidou o vovô para contar-lhe a estória. Era uma bela estória escrita com rimas, contando como era o dia na Fazenda Bem-Te-Vi. Era mais ou menos assim, só que muito mais rimada: O sol iluminando o chão da estrada, enquanto o galo garnizé com seu quiquiriqui despertava a bicharada. Os pintinhos correndo pelo terreiro, ciscando atrás de bichinhos. Depois daquela algazarra, nenhum bicho dormia mais, cada qual no seu idioma passando horas e horas numa conversa fiada. O porco oinc, oinc! A cabra bé bé e a vaca com seu mú mú não arredava o pé. A pata choca com seus patinhos na lagoa, nadavam numa boa. A Dona Tiana tirando o leite, Rosinha recolhendo os ovos para fazer bolos, tortas para o deleite ….  “- e brigadeiros”, gritava Pablito toda vez que chegava nesse ponto. Não estava escrito brigadeiro, mas o fato é que ele adora essa guloseima. Também tinha o Zeca e seu cavalo Pé de Vento indo até a cidade, que da rotina de todo dia, era um acontecimento.  [Desculpem as rimas, mas não resisti].

Estudou o livrinho muitas vezes, na sexta-feira e no sábado. Pablito não dava trégua, queria devorar o livro. Pegava seus bichinhos de plástico, a vaca, o porco, a cabra, o cavalo, o galo Carijó e a Galinha Pintadinha e no teatro da imaginação era o diretor de cada cena. No domingo a mamãe e a vovó também leram com ele o livrinho.

Quando chegou a segunda-feira a ansiedade do menino era tamanha que levantou de primeira, vestiu-se sem reclamar. Tomou sua mamadeira, pegou a mochila, subiu no carro sozinho e sentou na cadeirinha, enquanto a vovó admirada colocava o cinto de segurança no menino. E lá se foram para a escola cumprir sua primeira tarefa.

No final da aula daquele dia, a professora chamou a vovó e elogiou o menino. Disse que havia contado a estória com tanto entusiasmo que os amigos adoraram. Saiu-se muito bem na  primeira lição. No outro dia, a mãe de uma amiguinha chamando a vovó de lado, disse que sua filha havia elogiado muito o Pablito. Que em casa ela contou para todos a estorinha que ouvira do coleguinha na classe, mas lastimou que o avô morava distante e não podia ensinar-lhe as estórias como o vovô do Pablito ensinava.

Nascia naquele dia mais um contador de estórias. Quando as estórias passam de avô para avô, felizes mesmo são os netos, até mesmo porque quando esses netos tornam-se avôs e avós, ao contar as estórias para seus netos, sabem da raiz de onde vieram e sentem-se mais repletos.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Pablito, édipo filho.


PABLITO, ÉDIPO FILHO.

*Por MMendes.

Naquele domingo Pablito quase não ficou com a mamãe. De manhãzinha foi à missa com os avós maternos. Depois do almoço passou boa parte da tarde com o pai. No início da noite sua mãe se despediu do menino com um abraço e entrou no carro da amiga. Foram jantar fora. Pablito ficou com as mãozinhas grudadas nas barras da grade da rua olhando-a partir. Depois de alguns instantes começou a andar de um lado para o outro no jardim esbravejando:

- Tô com ciúmes da minha mãe. Ela saiu com a Maju e não me levou para jantar. Vou mandar um tricerátopes devorar ela. Vou subir num pássaro gigante e vou atrás dela. Eu vou virar um super-herói e vou voando. Colocava os braços para trás como um super-herói segurando a capa e corria pelo jardim como se estivesse voando pelo céu.

Estava inconformado com a saída da mãe. Então o vovô foi até ele e disse:

- É melhor você ligar para sua mãe e falar tudo isso para ela. Pegou o celular e ligou. Quando a mamãe atendeu, Pablito rasgou o verbo. Pronunciava as palavras com tanta energia e velocidade que não era possível entender nada, apenas notar que ele estava muito bravo.

Do outro lado a mamãe respondeu: - Não estou entendendo o que você está falando!

O menino repetiu tudo com a mesma energia e mesma velocidade. Ela respondeu de novo: - Não estou entendendo o que você está falando!

Então ele falou pausadamente: - Estou com ciúmes de você. Você não me levou para jantar!

Mamãe riu-se e disse: - Logo, logo a mamãe volta. Tá bom?

Ao ouvir a voz de sua mãe prometendo voltar desistiu de atacá-la. Imediatamente recolheu o tricerátopes, o pássaro gigante e sua capa de super-herói.

- Tá bom mamãe! Respondeu com uma vozinha doce de criança.

Somos todos assim. Usamos a armadura da raiva para esconder que somos pequenos e carentes. Basta um pequeno gesto de carinho para que toda couraça se transforme em abraço daqueles que dizem: "Nunca mais me deixe aqui sozinho, porque eu sofro sem você".

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Pablito e o padre

PABLITO E O PADRE
* Por Marco Mendes

Pablito era tão pequeno, que podia-se dizer que era um pagão de fato, embora batizado por insistência dos avós, seus padrinhos. Não sabia muita coisa de Deus, tão pouco das obrigações religiosas, rituais e sacramentos. Seu conhecimento mais profundo sobre religião resumia-se em chamar o menino Jesus de "bebê Jesus". Apenas era assim, feliz, alegre, bem humorado.

Certo dia o Padre Oralino, que o havia batizado, foi visitar a família. Ao entrar em casa o menino perguntou ao vovô:

- Quem é esse aí?

- É o padre Oralino. Ele te batizou!

- Oi “padro”, tudo bem? Perguntou o menino. Penso que ele achou que “padro” cairia melhor por ser nome masculino. Com certeza o Pablito não sabia o significado de ser um padre, nem mesmo o que seria um batismo. Embora não reconhecesse qualquer autoridade, seu pequeno coração de criança, livre de preconceitos, mágoas e protocolos, pode recebe-lo simplesmente como um amigo da família.

- Tudo bem e você? Respondeu o sacerdote.

- Eu estou aqui, brincando com meus brinquedos. Daqui a pouco vou sair para visitar minha outra vovó. Em seguida a essa pequena apresentação fez um monte de gracinhas para chamar a atenção.
Em alguns minutos a mamãe apareceu e o chamou, dizendo que o papai estava esperando para irem até a casa da outra avó.

Então Pablito foi até o padre e deu-lhe um abraço e um beijo no rosto. É curioso como as crianças possuem um coração acolhedor. Conheceu o padre naquele dia e o tratou como um velho amigo.

- Tchal “padro” agora tenho que ir.

Ao observar o neto, vovô refletiu. Naquele pequeno gesto de carinho, um simples beijo no rosto, porém um beijo puro e sincero, quanto futuro aguardava para despertar? Quanto de semente de bem e de amor verdadeiro exalaram de seus pequenos lábios? O acolhimento e o carinho com que o Pablito tratou o padre alimentou a esperança de que um dia os homens encontrarão o caminho da concórdia, se reconhecerão irmãos da mesma família humana, as guerras cessarão e finalmente conheceremos a paz.

O rosto do padre não conseguiu esconder a emoção. Com certeza nunca encontrou gesto tão verdadeiro e puro em nenhum dos homens e mulheres de sua paróquia. Como disse o poeta Fernando Pessoa, “mais vale ser criança que querer compreender o mundo”.

Pablito, o matador de dragões

PABLITO, O MATADOR DE DRAGÕES
Por Marco Mendes

Amanheceu o dia e Pablito estava roncando esparramado em sua cama. A vovó acordou cedo, preparou a mochila da escola, separou as peças do uniforme. Sentada à beira da cama do menino, acariciando os cachos do neto o convidou a levantar para ir à escola. Mas ele não se moveu. Então jeitosamente tirou-lhe o pijama e vestiu o uniforme. Mas ele seguia como morto (de sono). Insistiu várias vezes, até que, sem abrir os olhos, ele disse:

- Eu não quero ir à escola hoje, vovó!

Nessa hora o vovô entrou no quarto:

- Como assim não irá à escola hoje? Logo hoje que um dragão ameaçador está sobrevoando sua escola, pronto para atacar sua classe?

O menino arregalou os olhos e sentou-se à cama. Então o vovô continuou:

- Só o corajoso cavaleiro Pablito poderá vencer esse terrível dragão e salvar a escola.
Nessa hora o menino deu um salto da cama e saiu pulando como que cavalgando um majestoso cavalo.

- Pocotó, pocotó, pocotó. Então vamos logo para a escola vovó. Eu vou matar o dragão com uma pedrada na cabeça.

E assim foi corajosamente alegre para mais um dia de aula, vencer todos os dragões imaginários e salvar o castelo. Afinal, não são justamente os sonhos e as fantasias que nos fazem enfrentar a dura realidade que é a vida?

Vendo aquela pureza de criança, o coração do vovô vibrou de contentamento:

- Ah meu Dom Quixote, meu netinho querido. Não deixe jamais que te roubem a capacidade de imaginar e sonhar, nem a coragem de lutar, pois são essas virtudes os pilares da felicidade e a força para enfrentar os desafios da vida.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A viagem a alma


A VIAGEM DA ALMA
*MMendes

A noite chegou
o sono bateu
meus olhos fecharam
tudo se apagou.
Minha alma aproveitou 
para viajar e partiu:
- Adiós.
- Goodbye. 
- Arrivederci.
- Au revoir.
- Auf wiedersehen.
- Adeus. 
- Namaste.
- Sayonara.
Me disse ela 
antes de sair. 
onde ela irá essa noite,
não posso nem imaginar.
Será que amanhã 
ela voltará?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O pão da alegria



O PÃO DA ALEGRIA
*MMendes
De que vale o pão
se o desânimo 
roubou o prazer 
em trabalhar? 
Mais importante que o pão 
é tudo aquilo que nos anima, 
nos leva a semear,
plantar e colher, 
por o pão na mesa
sorrir, viver e amar.
Nem só de pão vive o homem
mas antes, de toda palavra 
que nos vem alegrar.
Seja alegre e leve vida
em tudo aquilo que tocar.
Assim descobrirá
o sentido da vida
que é viver com alegria,
com aquilo que se é,
com aquilo que se tem
cercado daqueles 
que te amam 
simplesmente por te amar.