quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Rugas do tempo


RUGAS DO TEMPO
*MMendes


Quando olhei para o futuro 

Não me encontrei

Muita névoa obscura

Tudo era possível

mas eu não estava ali.

Olhei para o presente e não me vi

A vida uma correria 

Não sobra tempo para mim

Apenas corpo presente 

Disperso eu também não estou aqui 

Será que foi numa dessas dobras 

De rugas do tempo

Que no passado me perdi? 

Será uma pena se quando me encontrar

Descobrir que envelheci e não vivi

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Pablito, tudo com capricho


PABLITO, tudo com capricho

* MMendes


De posse de vários desenhos impressos em papel, Pablito pôs-se a pintá-los. Pegava as primeiras folhas, fazia apenas alguns rabiscos com os lápis de cor e passava para outro, até que a vovó chamou a atenção:

- Pablito, não é assim que se faz. Você deve pintar preenchendo todo o desenho antes de pegar outro, senão o vovô não vai imprimir mais.

Com amor e dedicação a vovó tomou um dos lápis e se pôs a ensinar o menino como deveria fazer. Logo o menino aprendeu e começou a pintar do jeito que a vovó ensinou. Era a visível a evolução dos trabalhos de Pablito, um melhor que o outro, mais preenchido, mais colorido, obedecendo cada vez mais os limites dos contornos.

Depois de colorir os desenhos Pablito fez uma exposição no chão do assoalho do escritório e foi chamar o vovô:

- Veja vovô, olha como eu pintei bonito. Esses primeiros estão um pouco feios, mas depois eu caprichei. É que eu sou caprichoso!

- Que beleza! Como você se esforçou e melhorou a pintura. Olha, só! Você é mesmo um menino caprichoso. Continue sempre assim.
Pablito vem se esforçando para não pintar fora do risco e pintar todos os branquinhos do papel.

- Vovô, olha que caprichoso! Diz ele mostrando o desenho.

- Aqui saiu um pouquinho para fora. Mas não tem problema, né? No próximo eu capricho mais!

Vovô sabe que o elogio ao talento pode nos encher de soberba e com isso paramos de avançar crendo que atingimos o topo. O elogio ao esforço nos leva cada vez mais longe, porque exige dedicação contínua. A virtude está toda no esforço, disse o escritor francês Anatole France. Podemos superar a falta de talento pelo esmero, mas não há talento que dê jeito no desleixo. Basta lembrar o desfecho da fábula da corrida da lebre e da tartaruga. A tartaruga venceu pelo esforço e a lebre perdeu pelo desleixo, mesmo tendo o talento.

Essa é uma lição antiga, muitas vezes desprezada: “Tudo quanto está ao teu alcance faze-o com esmero”, reza a antiga septuaginta.