segunda-feira, 27 de junho de 2016

Pablito, o amigo invisível


PABLITO, O AMIGO INVISÍVEL

*MMendes

- Lobo mau não existe né tio?

O titio para sacanear fala:

- Existe sim! Então o que é isso atrás de você?

O menino olha para trás e, onde não havia absolutamente nada, afirma para espanto do titio:

- Ah, titio, não é lobo não, é só meu amiguinho.

Em seguida Pablito começou a correr chamando seu amigo imaginário para brincar:

- Corre Theeham, corre Theeham.

Como disse Fernando Pessoa, “a vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos”. O poeta nos diz que vemos o mundo a partir de nós mesmos, interpretando tudo a partir daquilo que somos. Não vemos o que é invisível aos nossos olhos, embora o invisível esteja ali à nossa frente.

Pablito parece discordar disso. Ao criar seu amigo imaginário, estava exercitando ver o mundo com os olhos do outro.  As crianças parecem saber intuitivamente que ao lado do mundo visível, há um outro invisível que o completa. Que as aparências enganam. Onde dizem haver um lobo pode haver um amigo.

O lúdico surge quando o expectador empresta à obra seus próprios sentimentos, emoções, pensamentos, crenças, que são os elementos invisíveis que completam a obra e sem o qual ela é morta.  A vida da obra é a vida do expectador.

As crianças têm um poder incrível de criar situações novas e se colocarem dentro delas num jogo de faz-de-conta. São os seres mais poderosos do mundo, capazes de transformarem-se a si mesmas, mudar de identidade, passar da ficção à realidade quantas vezes quiserem, além de buscar cúmplices para seus jogos fantásticos. O cúmplice escolhido nesse caso foi o Titio.

Para aqueles que não creem em Deus, aqui reside uma grande lição. Deus não pode ser encontrado na superfície da realidade “visível”. Para descobri-lo é essencial mergulhar no mundo invisível. Como disse o Pequeno Príncipe, “o essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração”.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Pablito, o palavrão


PABLITO,  O PALAVRÃO

*MMendes


Outro dia Pablito apareceu com um palavrão feio na boca.

- Pablito onde você aprendeu isso? Essa é uma palavra muito feia. Repreendeu vovô.

- Essa palavra é feia vovô?

- Sim, é muito feia.

Então Pablito tentou arrumar um jeito de falar a palavra sem reprovação…

- Vovô?

- O que foi Pablito?

- @#%* é mesmo uma palavra feia, né vovô?

Então vovô o interrompeu dizendo:

- Pablito! Essa palavra é tão feia que não pode pronunciá-la de jeito nenhum. Se quiser se referir a ela diga apenas “aquela palavra”, mas não diga seu nome! A criança ficou olhando vovô sem saber qual a razão daquela palavra ser tão feia. Afinal, ele nem sabia seu significado.

- E garela, posso falar garela?

- Sim Pablito, garela pode falar.

- Que garela… que garela… que garela. Disse o guri compulsivamente. Só por Deus!

As crianças são grandes manobreiras e inventoras de palavras. Reescrevem as leis da gramática fazendo suas próprias regras. Dão significado àquilo que não existe e podem dizer palavras que nunca foram ditas. Com suas palavras novas e inventadas desafiam nosso pensamento a cada dia. Arrumam e desarrumam palavras até que possamos lhes dar algum significado.

Pensando bem, as palavras são só representações simbólicas daquilo que expressamos em nosso ser. O que verdadeiramente fala em nós são nossas intenções, nossos pensamentos, nossas emoções, nossas ações. Um autor desconhecido já disse que todas as palavras são mentirosas, até que as atitudes provem o contrário.

Depois de um tempo vovô perguntou ao Pablito o que significava “garela”. Com a inocência própria das crianças ele respondeu:

- É apenas uma palavra bonita, uma palavra pequenininha que não é um palavrão!

A sabedoria do netinho fez vovô sorrir. Como disse William Shakespeare: “Seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas palavras”.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Pablito, brincadeira de cabaninha


PABLITO, BRINCADEIRA DE CABANINHA.

*MMendes

- Senhor Macaco, o dinossauro vem vindo?

Pablito conversava com um macaco de pano embaixo da cabana construída pelo lençol da cama levantado pelas pernas do vovô. Dentro da cabana vovô segurava o macaco, que ganhava vida por suas mãos e voz. Esse macaco era uma espécie de relíquia de família. Ele pertenceu à mamãe do Pablito, que ganhou do vovô quando ainda era criança. Muitas vezes o vovô brincou de cabaninha com a mamãe quando ela tinha a idade do Pablito. A vida é assim, vai e volta. Acho que é por isso que dizem que avô é pai duas vezes.

- Acho que ele está chegando! Sussurrou vovô pela vez do macaco.

- O dinossauro achou a gente!!!!! Gritaram vovô e Pablito assim que a vovó levantou o lençol, para entregar a mamadeira ao netinho.

Pablito pegou a mamadeira do dinossauro, digo vovó, e começou a mamar. Vovô o cobriu e lhe deu um beijinho de boa noite. A brincadeira da cabana é uma daquelas que o Pablito adora. Um antigo provérbio escocês afirma que “o perigo e o prazer andam de mãos dadas”.

Há nessa brincadeira um valoroso aprendizado: “Não deixe o medo te dominar, enfrente-o com coragem, pois do outro lado do pano que cobre nossos olhos há uma verdade que é libertadora”.

“As pessoas têm dificuldade de abandonar seus sofrimentos. Por medo do desconhecido, elas preferem sofrer com o que é familiar”, disse Thich Nhat Hanh, monge tibetano. Quando enfrentamos o medo temos a chance de ir além, atravessar o horizonte da segurança, caminhar pela estrada da coragem e vencer o desconhecido. Aquele que recua diante do medo nunca verá nada de novo.

A brincadeira entre crianças e adultos é uma espécie de jogo que pressupõe igualdade entre os jogadores. O lúdico ajuda as crianças abrirem um espaço no mundo, a exercitarem seus aprendizados e construirem suas identidades. Mas, sem dúvida, para os adultos a brincadeira ajuda a não envelhecer, a encontrem graça na realidade da vida as vezes é tão dura. Como disse o médico americano Oliver Wendell Holmes “Nós não paramos de brincar porque envelhecemos, mas envelhecemos porque paramos de brincar”.

Obrigado meu netinho, por não me deixar envelhecer!

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Pablito, a bitoca

PABLITO, A BITOCA 
*MMendes


Pablito é uma criança muito carinhosa. Na escola ele abraça e beija os amigos todos os dias antes de ir embora. Alguns resistem, trancam o rosto, cruzam os braços. Mas Pablito nem liga, vai lá abraça e beija do mesmo jeito. Outros, assim como o Pablito, adoram abraços e beijos e o recebem de braços abertos e beijos estalados.

Quando Pablito chegou na natação, encontrou uma amiguinha da escola. Ela estava começando na natação na turma do Pablito naquele dia. Quando se viram se abraçaram e riram muito todo o tempo. No final da aula depois de se trocarem a amiguinha gritou.

- Pablito, vem me dar um abraço!

Pablito saiu correndo, abraçou a menina e deu-lhe uma Bitoca ... um beijo! As mães que estavam ali por perto caíram na risada. Pablito e a amiguinha sentiram-se no centro do palco da vida e a plateia aplaudia a cena.

Na sequência daquele ato improvisado, assustada com a reação das pessoas a coleguinha encolheu-se envergonhada, enquanto o Pablito tal qual um cavaleiro em defesa de sua donzela, enfrentou todos com os olhos, esbravejando como um tiranossauro:

- Rhuuuuu !!!!

A jornalista e humorista Helen Rowland afirma que um homem rouba o primeiro beijo, implora o segundo, exige o terceiro, recebe o quarto, aceita o quinto, e suporta os restantes. Então com certeza a vida do Pablito será feita de abraços e beijos. Sorte dele.

Ao final, com toda certeza aqueles coraçõezinhos suplicavam um ao outro: “Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho” (Mario de Quintana).