segunda-feira, 24 de abril de 2017

Pablito, rasgando dinheiro



PABLITO, rasgando dinheiro

*Por Marco Mendes


Pablito faz aulas de natação para criança e se sai muito bem. Dias atrás a professora lançou um desafio de atravessar a piscina sem respirar. Quem conseguisse sentaria no tapete dos campeões. Pablito foi o primeiro a conseguir e agitava-se quando outro concorrente perdendo o fôlego colocava a cabeça para fora e respirava. Quando isso acontecia, sentado no tapete dos campeões, com o punho da mão cerrado, puxava o braço para baixo como quem puxa a corda do apito do trem.

- Yes! Vibrava o menino.

Mas acho que o guri andou meio cansado do esforço exigido pelo esporte. Outro dia não quis ir participar da aula na terça-feira. Quando o vovó chegou de viagem na quinta-feira teve uma conversa carinhosa com neto. Disse o quanto gostaria que ele continuasse na natação. Pablito se comprometeu ir à natação na semana seguinte. Contudo, quando chegou o dia ele se recusou a entrar na piscina novamente.

- Mamãe, eu não quero entrar na piscina. Estou cansado.

A professora insistiu com ele:

- Entre Pablito, venha para a água com seus amiguinhos.

Mas o menino estava decidido a não entrar... talvez nunca mais. Foi quando a mamãe apelou:

- Pablito, o vovô paga sua natação e toda vez que você não quer ir o vovô fica rasgando dinheiro.

Nesse momento o menino saiu correndo em direção a piscina gritando:

- Professora! Professora! Eu vou nadar sim, senão meu avô vai ficar rasgando dinheiro! E tibum.... mergulhou, enquanto as outras mãe ficaram rindo de seu comportamento.

Nascemos com potencial para sermos tudo o que quisermos, mas tornar isso realidade depende de muito esforço. As vezes queremos desistir e é preciso que alguma força interna, um amor maior, nos dê a energia necessária para prosseguir até o fim. Como disse Clarice Lispector "existe um grande, o maior obstáculo para eu ir adiante: eu mesma. Tenho sido a maior dificuldade no meu caminho. É com enorme esforço que consigo me sobrepor a mim mesma...".

O amor de Pablito pelo vovô foi derradeiro para que o menino vencesse o desânimo e pulasse na piscina. Não sabemos ao certo o que ele pensou que aconteceria se o vovô rasgasse dinheiro, mas com certeza em seu íntimo sabia que isso não era justo com o vovô. Pode ser que lá em seu inconsciente coletivo conhecesse a simbologia da prática das culturas orientais de rasgar as roupas como demonstração de emoções fortes, angústia, tristeza. Dessa forma, se o vovô rasgasse dinheiro isso seria sinal que o vovô ficaria angustiado e triste.

Para alguns o dinheiro pode ser apenas sinal de poder, para outros o dinheiro significa o suor do trabalho. O ex-presidente do Uruguai José Mujica certa vez afirmou que "quando compro algo, ou você compra, não pagamos com dinheiro, pagamos com o tempo de vida que tivemos que gastar para ter aquele dinheiro. Mas tem um detalhe: tudo se compra, menos a vida. A vida se gasta. E é lamentável desperdiçar a vida...". E Pablito não queria que o vovô desperdiçasse sua vida.

Eu penso mais ou menos como Mujica, mas a vida que gasto com meu neto é o melhor investimento que faço com meu trabalho. Investir nas crianças é o caminho para salvação da humanidade. Como bem lembrou o juiz paraibano Onaldo Queiroga: "Esqueçamos as guerras e lutemos por uma criança feliz, pois só assim, erradicaremos uma legião futura de adultos incapazes de praticar a paz".

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