PABLITO, meu anjo da guarda
*Por Marco Mendes
- Vovô, estou com sono. Vamos dormir?
Era chegada a noite e Pablito estava abrindo a boca de sono. Subiram as escadas enquanto todos os demais ficaram no andar de baixo assistindo um filme na TV. Vovô trocou o menino, apagou a luz e deitaram-se. Depois de rezarem uma Ave Maria vovô se pôs a explicar ao neto a primeira parte da oração:
- Antes que a mamãe do bebê Jesus soubesse que estava grávida, no escurinho do quarto o anjo Gabriel apareceu para ela e disse que ela ficaria grávida de Jesus. Ele disse à Maria que era uma mulher feliz porque Deus a escolheu para ser a mãe do bebê Jesus. Que esse menino era bendito, porque iria crescer e nos ajudar a encontrar Deus. A oração que acabamos de rezar repete justamente as palavras do anjo Gabriel:
- "Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois sós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre Jesus". O ventre é a barriga da mamãe e o fruto é a criança que está dentro dela esperando para nascer.
Pablito ficou escutando aquelas palavras na penumbra deitadinho ao lado do vovô. Ao final das explicações fez uma inusitada indagação:
- Vovô, e quando minha mãe ficou grávida de mim, também um anjo apareceu para ela?
Aquela pergunta surpreendeu vovô, que respondeu logo em seguida:
- Sim meu querido. Também um anjo apareceu para sua mamãe.
- E quem era ele vovô?
- Esse anjo era eu. Quando eu fiquei sabendo que sua mamãe estava grávida eu a abracei e disse que ela era muito bem-vinda em minha casa, que o bebê que ela carregava na barriga seria muito amado. Esse bebê era você.
Passados uns minutinhos Pablito adormeceu abraçadinho ao vovô. Então vovô sussurrou em seu ouvido:
- O Senhor fez em mim maravilhas e santo é o Seu nome. Bendito és tu, meu netinho, que veio semear amor em nossa casa.
Para quem não sabe, Pablito é filho de uma adolescente chamada Maria, que o concebeu com quinze anos de idade. No dia em que vovô recebeu a notícia seu coração estremeceu. Vovô chorou dois dias por medo do futuro, até que na solidão de sua angústia uma voz lhe disse:
- Assim como Jesus nasceu de uma jovem solteira, eu vôs anuncio seu neto (por intuição vovô sempre soube que seria um menino). Receba-o assim como Jesus foi recebido pelos avós maternos. Ninguém vem ao mundo antes da hora, nem por acaso, senão por permissão e propósito do plano de Deus.
O Papa Francisco afirmou que “mãe não é estado civil. Por isso, não existe mãe solteira”. Era preciso acolher aquela mãe que não estava totalmente preparada para a maternidade. Essa jovem mãe precisava mesmo era de um anjo da guarda. Podemos escolher o que plantar, mas somos obrigados a colher o que semeamos. Há coisas na vida que não podem ser expressas em palavras, apenas em gestos. Então, naquela mesma noite vovô bateu à porta do quarto de Maria.
- Quem é?
- É o pai?
- O que você quer?
- Conversar com você?
Maria abriu uma fresta da porta por onde passava apenas um dos olhos.
- Não podemos conversar por uma fresta. Venha para fora do quarto.
Quando Maria saiu, pôs-se em pé em frente ao pai, baixou a guarda esticando os braços e fechou os olhos esperando o pior.
- Posso te dar um abraço? Disse vovô abrindo os braços. Pai e filha se abraçaram e choraram muito.
- Eu poderia te acusar de muitas coisas nesse momento, mas nada disso mudaria a história que começou a ser escrita para nós. Tudo isso é novidade para mim e também para você. Esse é o momento que você mais precisa de mim e estou aqui com você. Comecemos uma nova história, uma história de amor. Você é bem-vinda em minha casa e seu filho também. Fiquemos juntos e tudo terminará bem. O tempo se encarregará de ajeitar tudo. Então demos tempo ao tempo.
Como diz o Padre Fábio de Melo: “Quando a noite esconde a luz, Deus acende as estrelas”. A primeira frase que Pablito disse ao vovô foi “eu te amo”. E essa é a frase repetida todos as vezes que os dois se encontram, se abraçam e se beijam. E eu sou testemunha de que isso acontece muitas vezes todos os dias.