terça-feira, 8 de março de 2016

Pablito, o contador de estórias

PABLITO, O CONTADOR DE ESTÓRIAS

*Por MMendes

Pablito nasceu escutando as estórias do vovô. O menino é um grande desafio à imaginação. Contos da Carochinha? Qual nada. Está mais para Pablito mil e uma noites. Pede estórias mil. O problema é que não são estórias já contadas, gosta daquelas inventadas. O menino dá o tema e toca o vovô sair correndo atrás de ideias para tecê-las na imaginação e contar uma estória inédita. Sabe, daquelas que nunca foram contadas? Pois é, essas mesmo!

- Vovô, conta a da menininha que tinha medo do Bicho Papão. Agora conta a historinha do cavalinho que tinha medo do dragão. Vai seguindo um rosário de temas com um elemento comum, o medo. Exige estórias ilustradas com palavras, gestos, sons e muito, mas muito medo. Contudo, no final tem que terminar com “e foram felizes para sempre”. Se as estórias forem água com açúcar, logo interrompe e pede outra. Tem que ser cheia de energia, vibrante. A sorte é que o vovô também cresceu ouvindo estórias de seu avô Aleixo. Por isso aprendeu improvisar bastante e explorar a imaginação de seu neto.

Na sexta-feira Pablito retornou eufórico da escola. Saiu correndo com um livrinho nas mãos.

- Vovô, olha só o que eu ganhei! Um livrinho de estorinha. A professora explicou ao vovô que todos os alunos haviam recebido um livrinho e na segunda-feira um deles seria sorteado para narrar aos coleguinhas.

Assim que chegou em casa, mal deixou a mochila num canto, lançou mão do livrinho e convidou o vovô para contar-lhe a estória. Era uma bela estória escrita com rimas, contando como era o dia na Fazenda Bem-Te-Vi. Era mais ou menos assim, só que muito mais rimada: O sol iluminando o chão da estrada, enquanto o galo garnizé com seu quiquiriqui despertava a bicharada. Os pintinhos correndo pelo terreiro, ciscando atrás de bichinhos. Depois daquela algazarra, nenhum bicho dormia mais, cada qual no seu idioma passando horas e horas numa conversa fiada. O porco oinc, oinc! A cabra bé bé e a vaca com seu mú mú não arredava o pé. A pata choca com seus patinhos na lagoa, nadavam numa boa. A Dona Tiana tirando o leite, Rosinha recolhendo os ovos para fazer bolos, tortas para o deleite ….  “- e brigadeiros”, gritava Pablito toda vez que chegava nesse ponto. Não estava escrito brigadeiro, mas o fato é que ele adora essa guloseima. Também tinha o Zeca e seu cavalo Pé de Vento indo até a cidade, que da rotina de todo dia, era um acontecimento.  [Desculpem as rimas, mas não resisti].

Estudou o livrinho muitas vezes, na sexta-feira e no sábado. Pablito não dava trégua, queria devorar o livro. Pegava seus bichinhos de plástico, a vaca, o porco, a cabra, o cavalo, o galo Carijó e a Galinha Pintadinha e no teatro da imaginação era o diretor de cada cena. No domingo a mamãe e a vovó também leram com ele o livrinho.

Quando chegou a segunda-feira a ansiedade do menino era tamanha que levantou de primeira, vestiu-se sem reclamar. Tomou sua mamadeira, pegou a mochila, subiu no carro sozinho e sentou na cadeirinha, enquanto a vovó admirada colocava o cinto de segurança no menino. E lá se foram para a escola cumprir sua primeira tarefa.

No final da aula daquele dia, a professora chamou a vovó e elogiou o menino. Disse que havia contado a estória com tanto entusiasmo que os amigos adoraram. Saiu-se muito bem na  primeira lição. No outro dia, a mãe de uma amiguinha chamando a vovó de lado, disse que sua filha havia elogiado muito o Pablito. Que em casa ela contou para todos a estorinha que ouvira do coleguinha na classe, mas lastimou que o avô morava distante e não podia ensinar-lhe as estórias como o vovô do Pablito ensinava.

Nascia naquele dia mais um contador de estórias. Quando as estórias passam de avô para avô, felizes mesmo são os netos, até mesmo porque quando esses netos tornam-se avôs e avós, ao contar as estórias para seus netos, sabem da raiz de onde vieram e sentem-se mais repletos.

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