terça-feira, 29 de março de 2016

A ciência do amor

A CIÊNCIA DO AMOR
*MMendes
Ainda que cavasse no coração do mundo, 
o bem lá não encontraria. 
Ainda que pudesse navegar nos confins do universo, 
ainda assim, o bem lá não estaria.
Se que a ciência tivesse o poder de tudo alcançar, 
nem mesmo assim com o bem esbarraria.
O bem não está naquilo que se pode ter ou agarrar. 
O bem é uma forma de ser, 
reside na sutileza do sentir e do olhar.
E sem o bem não há beneficio, 
pois o bem é o ofício,
o que transforma toda descoberta 
na ciência do amar.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Pablito, uma Páscoa generosa



PABLITO, UMA PÁSCOA GENEROSA

*MMendes

Assim que o carro estacionou na garagem, Pablito veio correndo e pulou no colo do vovô. Em meio aos abraços, cosquinhas e risadas, vovô disse ao neto:

- Você não advinha quem eu encontrei! O coelhinho da Páscoa!

- Onde vovô? Onde ele estava? Perguntou arregrando os olhinhos de espanto e surpresa.

- Lá perto do mercado. E sabe o que ele me falou? Que vai te trazer um delicioso ovo de chocolate branco. Pablito adora chocolate branco.

Pablito passou a língua nos lábios e disse:

- Delícia! Quando vovô, quando ele vai trazer?

- No domingo de Páscoa! Disse o vovô.

Então foi com o netinho até a dispensa, pegou uma caixa de sapatos e juntos encheram com pedados de papel picado. Era o ninho do coelho, onde ele deixaria os ovos.

Na noite do sábado vovô e vovó puseram os chocolates na caixa sobre a mesa da sala de estar. Tão logo acordou no domingo, Pablito foi conferir o ninho e deu um grito de alegria ao ver um ovo de chocolate branco. Junto com esse ovo havia outros três chocolates, que Pablito distribuiu generosamente para a mamãe, para o titio e para a vovó.

- Ih! Acho que o coelho esqueceu-se de mim. Disse o vovô.

- Não vovô, não esqueceu não. Esse ovo é para mim e para você. Disse Pablito consolando-o. Abriu o ovo, partiu um pedaço e com um largo sorriso ofereceu para o vovô, que abraçou o neto e agradeceu a oferta.

A Páscoa é sem dúvida uma época muito especial. Mistura a magia do coelho e o sabor do chocolate ao mistério da ressurreição de Cristo, tudo amarrado pelos laços de família. É tempo de renascer, reaprender a viver. Como é bom testemunhar a generosidade brotar como um delicioso bombom saído do ovo da vida, entregue pelas mãos de uma criança, com o firme propósito de redimir os homens da velha e conservadora ganância. Feliz Páscoa Pablito. Será um grande homem.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Pablito, o suor da benção

PABLITO, O SUOR DA BENÇÃO
*MMendes

Na missa o padre convocou a assembléia de fieis para o lado de fora do templo, para o início da procissão do Domingo de Ramos. Pablito estava no colo do vovô à sombra do telhado da varanda. O sol estava escaldante e o suor escorria do rosto de muitas pessoas, principalmente do padre.

Em determinado momento o padre tomou o aspersório nas mãos e começou a aspergir água sobre as pessoas. Várias gotas caíram no rosto do Pablito. O menino não entendeu porque o padre Aldir molhou as pessoas. Fitou o vovô com olhos de interrogatório.

Nesse momento, uma mulher que estava ao lado percebeu o espanto da criança e disse:

- Agora você está abençoado! 

Então Pablito virou para o vovô, enxugando o rosto com as mãozinhas disse: 

- Vô, agora eu tô bem suado!

Ah, meu netinho. Teu coração de criança te revelou grande sabedoria que só os puros de coração podem alcançar. 

Teu pequeno coração se abriu para receber de graça que existe uma forte relação entre a benção e o suor. Quando crescer e disser “com meu próprio suor eu me formei na faculdade”, ou ainda, “eu conquistei isso às custas do meu próprio suor”, não se esqueça que atrás do teu esforço e do teu suor, muitas bênçãos te foram enviadas por Deus, entregues pelos anjos que Deus colocou ao teu lado. Então proclame sempre assim: “eu conquistei tudo isso com meu esforço e com meu próprio suor, graças às bênçãos de Deus e aos anjos que me conduziram”.

domingo, 20 de março de 2016

Juízo final




Juízo Final
*MMendes

Não há mais como esconder o mal
ele está aí escancarado afinal.
Com a espada afiada da justiça 
foi ferido mortalmente o lobo 
que estava a saquear nosso país
encantando muitos com sua canção
sob aparência de frágil ovelha 
bebia todo o sangue da nação.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Pablito pão e vinho


PABLITO PÃO E VINHO

*MMendes

- Essa não é a nossa igreja, né vovô?

- Sim, estamos numa outra igreja. Por que está perguntando Pablito?

- É que o papai do céu está muito escuro lá em cima. Eu não consigo ver o seu dodói. Disse o menino.

Vovô e Pablito foram à missa numa outra igreja. Atrás do altar havia um Cristo crucificado esculpido em madeira escura. Realmente não dava para ver claramente os ferimentos. Na outra igreja que Pablito frequentava havia uma imagem em gesso onde os ferimentos eram muito mais vivos. A imagem do Cristo crucificado é mesmo chocante. Impressiona por mostrar como nós humanos podemos ser malvados e muito cruéis. Então o vovô levou Pablito mais perto do altar onde ele pode conferir os ferimentos.

- Quem fez isso com o papai do céu? Perguntou a criança.

- Foi o homem? Respondeu vovô.

- Onde está esse homem vovô? Inquiriu o menino indignado.

Sem saber como responder aquela pergunta tão profunda e complexa vovô resolver resumir:

- O homem que fez isso está no mundo.

- No mundo? A palavra mundo não fez muito sentido para Pablito. Então vovô resolver resumir mais um pouco.

- No mundo, isso é, ele está lá fora. No mundo. Entendeu?

Nesse momento Pablito olhou para um homem que estava encostado no batente da porta de entrada e perguntou:

- Foi aquele homem ali? A coisa estava ficando complicada para o vovô.

- Não querido! As pessoas que estão aqui e também aquele homem que está na porta não mataram Jesus. O homem que fez isso está lá fora da igreja, mas não se sabe quem ele é e nem onde ele está. Só o reconhecemos quando vemos ele praticando sua maldade. Disse vovô tentando descompactar em vão o resumo.

- Vovô, eu preciso encontrar quem fez isso com Ele!

Todo coração puro de criança quer tirar o Cristo da cruz, saciar sua fome e sua sede. Há meu amiguinho, quando descobrir que o inimigo é interior poderá encontrá-lo. E quando com ele tiver aquela conversa difícil, perdoe-o, pois assim poderá perdoar-se também. Perdoando-se mutuamente, você e teu inimigo convertido poderão tirar os cravos das mãos e dos pés do Cristo e cuidar de suas feridas.

terça-feira, 8 de março de 2016

Pablito, o contador de estórias

PABLITO, O CONTADOR DE ESTÓRIAS

*Por MMendes

Pablito nasceu escutando as estórias do vovô. O menino é um grande desafio à imaginação. Contos da Carochinha? Qual nada. Está mais para Pablito mil e uma noites. Pede estórias mil. O problema é que não são estórias já contadas, gosta daquelas inventadas. O menino dá o tema e toca o vovô sair correndo atrás de ideias para tecê-las na imaginação e contar uma estória inédita. Sabe, daquelas que nunca foram contadas? Pois é, essas mesmo!

- Vovô, conta a da menininha que tinha medo do Bicho Papão. Agora conta a historinha do cavalinho que tinha medo do dragão. Vai seguindo um rosário de temas com um elemento comum, o medo. Exige estórias ilustradas com palavras, gestos, sons e muito, mas muito medo. Contudo, no final tem que terminar com “e foram felizes para sempre”. Se as estórias forem água com açúcar, logo interrompe e pede outra. Tem que ser cheia de energia, vibrante. A sorte é que o vovô também cresceu ouvindo estórias de seu avô Aleixo. Por isso aprendeu improvisar bastante e explorar a imaginação de seu neto.

Na sexta-feira Pablito retornou eufórico da escola. Saiu correndo com um livrinho nas mãos.

- Vovô, olha só o que eu ganhei! Um livrinho de estorinha. A professora explicou ao vovô que todos os alunos haviam recebido um livrinho e na segunda-feira um deles seria sorteado para narrar aos coleguinhas.

Assim que chegou em casa, mal deixou a mochila num canto, lançou mão do livrinho e convidou o vovô para contar-lhe a estória. Era uma bela estória escrita com rimas, contando como era o dia na Fazenda Bem-Te-Vi. Era mais ou menos assim, só que muito mais rimada: O sol iluminando o chão da estrada, enquanto o galo garnizé com seu quiquiriqui despertava a bicharada. Os pintinhos correndo pelo terreiro, ciscando atrás de bichinhos. Depois daquela algazarra, nenhum bicho dormia mais, cada qual no seu idioma passando horas e horas numa conversa fiada. O porco oinc, oinc! A cabra bé bé e a vaca com seu mú mú não arredava o pé. A pata choca com seus patinhos na lagoa, nadavam numa boa. A Dona Tiana tirando o leite, Rosinha recolhendo os ovos para fazer bolos, tortas para o deleite ….  “- e brigadeiros”, gritava Pablito toda vez que chegava nesse ponto. Não estava escrito brigadeiro, mas o fato é que ele adora essa guloseima. Também tinha o Zeca e seu cavalo Pé de Vento indo até a cidade, que da rotina de todo dia, era um acontecimento.  [Desculpem as rimas, mas não resisti].

Estudou o livrinho muitas vezes, na sexta-feira e no sábado. Pablito não dava trégua, queria devorar o livro. Pegava seus bichinhos de plástico, a vaca, o porco, a cabra, o cavalo, o galo Carijó e a Galinha Pintadinha e no teatro da imaginação era o diretor de cada cena. No domingo a mamãe e a vovó também leram com ele o livrinho.

Quando chegou a segunda-feira a ansiedade do menino era tamanha que levantou de primeira, vestiu-se sem reclamar. Tomou sua mamadeira, pegou a mochila, subiu no carro sozinho e sentou na cadeirinha, enquanto a vovó admirada colocava o cinto de segurança no menino. E lá se foram para a escola cumprir sua primeira tarefa.

No final da aula daquele dia, a professora chamou a vovó e elogiou o menino. Disse que havia contado a estória com tanto entusiasmo que os amigos adoraram. Saiu-se muito bem na  primeira lição. No outro dia, a mãe de uma amiguinha chamando a vovó de lado, disse que sua filha havia elogiado muito o Pablito. Que em casa ela contou para todos a estorinha que ouvira do coleguinha na classe, mas lastimou que o avô morava distante e não podia ensinar-lhe as estórias como o vovô do Pablito ensinava.

Nascia naquele dia mais um contador de estórias. Quando as estórias passam de avô para avô, felizes mesmo são os netos, até mesmo porque quando esses netos tornam-se avôs e avós, ao contar as estórias para seus netos, sabem da raiz de onde vieram e sentem-se mais repletos.