segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Pablito e o padre

PABLITO E O PADRE
* Por Marco Mendes

Pablito era tão pequeno, que podia-se dizer que era um pagão de fato, embora batizado por insistência dos avós, seus padrinhos. Não sabia muita coisa de Deus, tão pouco das obrigações religiosas, rituais e sacramentos. Seu conhecimento mais profundo sobre religião resumia-se em chamar o menino Jesus de "bebê Jesus". Apenas era assim, feliz, alegre, bem humorado.

Certo dia o Padre Oralino, que o havia batizado, foi visitar a família. Ao entrar em casa o menino perguntou ao vovô:

- Quem é esse aí?

- É o padre Oralino. Ele te batizou!

- Oi “padro”, tudo bem? Perguntou o menino. Penso que ele achou que “padro” cairia melhor por ser nome masculino. Com certeza o Pablito não sabia o significado de ser um padre, nem mesmo o que seria um batismo. Embora não reconhecesse qualquer autoridade, seu pequeno coração de criança, livre de preconceitos, mágoas e protocolos, pode recebe-lo simplesmente como um amigo da família.

- Tudo bem e você? Respondeu o sacerdote.

- Eu estou aqui, brincando com meus brinquedos. Daqui a pouco vou sair para visitar minha outra vovó. Em seguida a essa pequena apresentação fez um monte de gracinhas para chamar a atenção.
Em alguns minutos a mamãe apareceu e o chamou, dizendo que o papai estava esperando para irem até a casa da outra avó.

Então Pablito foi até o padre e deu-lhe um abraço e um beijo no rosto. É curioso como as crianças possuem um coração acolhedor. Conheceu o padre naquele dia e o tratou como um velho amigo.

- Tchal “padro” agora tenho que ir.

Ao observar o neto, vovô refletiu. Naquele pequeno gesto de carinho, um simples beijo no rosto, porém um beijo puro e sincero, quanto futuro aguardava para despertar? Quanto de semente de bem e de amor verdadeiro exalaram de seus pequenos lábios? O acolhimento e o carinho com que o Pablito tratou o padre alimentou a esperança de que um dia os homens encontrarão o caminho da concórdia, se reconhecerão irmãos da mesma família humana, as guerras cessarão e finalmente conheceremos a paz.

O rosto do padre não conseguiu esconder a emoção. Com certeza nunca encontrou gesto tão verdadeiro e puro em nenhum dos homens e mulheres de sua paróquia. Como disse o poeta Fernando Pessoa, “mais vale ser criança que querer compreender o mundo”.

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