segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Pablito, édipo filho.


PABLITO, ÉDIPO FILHO.

*Por MMendes.

Naquele domingo Pablito quase não ficou com a mamãe. De manhãzinha foi à missa com os avós maternos. Depois do almoço passou boa parte da tarde com o pai. No início da noite sua mãe se despediu do menino com um abraço e entrou no carro da amiga. Foram jantar fora. Pablito ficou com as mãozinhas grudadas nas barras da grade da rua olhando-a partir. Depois de alguns instantes começou a andar de um lado para o outro no jardim esbravejando:

- Tô com ciúmes da minha mãe. Ela saiu com a Maju e não me levou para jantar. Vou mandar um tricerátopes devorar ela. Vou subir num pássaro gigante e vou atrás dela. Eu vou virar um super-herói e vou voando. Colocava os braços para trás como um super-herói segurando a capa e corria pelo jardim como se estivesse voando pelo céu.

Estava inconformado com a saída da mãe. Então o vovô foi até ele e disse:

- É melhor você ligar para sua mãe e falar tudo isso para ela. Pegou o celular e ligou. Quando a mamãe atendeu, Pablito rasgou o verbo. Pronunciava as palavras com tanta energia e velocidade que não era possível entender nada, apenas notar que ele estava muito bravo.

Do outro lado a mamãe respondeu: - Não estou entendendo o que você está falando!

O menino repetiu tudo com a mesma energia e mesma velocidade. Ela respondeu de novo: - Não estou entendendo o que você está falando!

Então ele falou pausadamente: - Estou com ciúmes de você. Você não me levou para jantar!

Mamãe riu-se e disse: - Logo, logo a mamãe volta. Tá bom?

Ao ouvir a voz de sua mãe prometendo voltar desistiu de atacá-la. Imediatamente recolheu o tricerátopes, o pássaro gigante e sua capa de super-herói.

- Tá bom mamãe! Respondeu com uma vozinha doce de criança.

Somos todos assim. Usamos a armadura da raiva para esconder que somos pequenos e carentes. Basta um pequeno gesto de carinho para que toda couraça se transforme em abraço daqueles que dizem: "Nunca mais me deixe aqui sozinho, porque eu sofro sem você".

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Pablito e o padre

PABLITO E O PADRE
* Por Marco Mendes

Pablito era tão pequeno, que podia-se dizer que era um pagão de fato, embora batizado por insistência dos avós, seus padrinhos. Não sabia muita coisa de Deus, tão pouco das obrigações religiosas, rituais e sacramentos. Seu conhecimento mais profundo sobre religião resumia-se em chamar o menino Jesus de "bebê Jesus". Apenas era assim, feliz, alegre, bem humorado.

Certo dia o Padre Oralino, que o havia batizado, foi visitar a família. Ao entrar em casa o menino perguntou ao vovô:

- Quem é esse aí?

- É o padre Oralino. Ele te batizou!

- Oi “padro”, tudo bem? Perguntou o menino. Penso que ele achou que “padro” cairia melhor por ser nome masculino. Com certeza o Pablito não sabia o significado de ser um padre, nem mesmo o que seria um batismo. Embora não reconhecesse qualquer autoridade, seu pequeno coração de criança, livre de preconceitos, mágoas e protocolos, pode recebe-lo simplesmente como um amigo da família.

- Tudo bem e você? Respondeu o sacerdote.

- Eu estou aqui, brincando com meus brinquedos. Daqui a pouco vou sair para visitar minha outra vovó. Em seguida a essa pequena apresentação fez um monte de gracinhas para chamar a atenção.
Em alguns minutos a mamãe apareceu e o chamou, dizendo que o papai estava esperando para irem até a casa da outra avó.

Então Pablito foi até o padre e deu-lhe um abraço e um beijo no rosto. É curioso como as crianças possuem um coração acolhedor. Conheceu o padre naquele dia e o tratou como um velho amigo.

- Tchal “padro” agora tenho que ir.

Ao observar o neto, vovô refletiu. Naquele pequeno gesto de carinho, um simples beijo no rosto, porém um beijo puro e sincero, quanto futuro aguardava para despertar? Quanto de semente de bem e de amor verdadeiro exalaram de seus pequenos lábios? O acolhimento e o carinho com que o Pablito tratou o padre alimentou a esperança de que um dia os homens encontrarão o caminho da concórdia, se reconhecerão irmãos da mesma família humana, as guerras cessarão e finalmente conheceremos a paz.

O rosto do padre não conseguiu esconder a emoção. Com certeza nunca encontrou gesto tão verdadeiro e puro em nenhum dos homens e mulheres de sua paróquia. Como disse o poeta Fernando Pessoa, “mais vale ser criança que querer compreender o mundo”.

Pablito, o matador de dragões

PABLITO, O MATADOR DE DRAGÕES
Por Marco Mendes

Amanheceu o dia e Pablito estava roncando esparramado em sua cama. A vovó acordou cedo, preparou a mochila da escola, separou as peças do uniforme. Sentada à beira da cama do menino, acariciando os cachos do neto o convidou a levantar para ir à escola. Mas ele não se moveu. Então jeitosamente tirou-lhe o pijama e vestiu o uniforme. Mas ele seguia como morto (de sono). Insistiu várias vezes, até que, sem abrir os olhos, ele disse:

- Eu não quero ir à escola hoje, vovó!

Nessa hora o vovô entrou no quarto:

- Como assim não irá à escola hoje? Logo hoje que um dragão ameaçador está sobrevoando sua escola, pronto para atacar sua classe?

O menino arregalou os olhos e sentou-se à cama. Então o vovô continuou:

- Só o corajoso cavaleiro Pablito poderá vencer esse terrível dragão e salvar a escola.
Nessa hora o menino deu um salto da cama e saiu pulando como que cavalgando um majestoso cavalo.

- Pocotó, pocotó, pocotó. Então vamos logo para a escola vovó. Eu vou matar o dragão com uma pedrada na cabeça.

E assim foi corajosamente alegre para mais um dia de aula, vencer todos os dragões imaginários e salvar o castelo. Afinal, não são justamente os sonhos e as fantasias que nos fazem enfrentar a dura realidade que é a vida?

Vendo aquela pureza de criança, o coração do vovô vibrou de contentamento:

- Ah meu Dom Quixote, meu netinho querido. Não deixe jamais que te roubem a capacidade de imaginar e sonhar, nem a coragem de lutar, pois são essas virtudes os pilares da felicidade e a força para enfrentar os desafios da vida.