PABLITO, ÉDIPO FILHO.
*Por MMendes.
Naquele domingo Pablito quase não ficou com a mamãe. De manhãzinha foi à missa com os avós maternos. Depois do almoço passou boa parte da tarde com o pai. No início da noite sua mãe se despediu do menino com um abraço e entrou no carro da amiga. Foram jantar fora. Pablito ficou com as mãozinhas grudadas nas barras da grade da rua olhando-a partir. Depois de alguns instantes começou a andar de um lado para o outro no jardim esbravejando:
- Tô com ciúmes da minha mãe. Ela saiu com a Maju e não me levou para jantar. Vou mandar um tricerátopes devorar ela. Vou subir num pássaro gigante e vou atrás dela. Eu vou virar um super-herói e vou voando. Colocava os braços para trás como um super-herói segurando a capa e corria pelo jardim como se estivesse voando pelo céu.
Estava inconformado com a saída da mãe. Então o vovô foi até ele e disse:
- É melhor você ligar para sua mãe e falar tudo isso para ela. Pegou o celular e ligou. Quando a mamãe atendeu, Pablito rasgou o verbo. Pronunciava as palavras com tanta energia e velocidade que não era possível entender nada, apenas notar que ele estava muito bravo.
Do outro lado a mamãe respondeu: - Não estou entendendo o que você está falando!
O menino repetiu tudo com a mesma energia e mesma velocidade. Ela respondeu de novo: - Não estou entendendo o que você está falando!
Então ele falou pausadamente: - Estou com ciúmes de você. Você não me levou para jantar!
Mamãe riu-se e disse: - Logo, logo a mamãe volta. Tá bom?
Ao ouvir a voz de sua mãe prometendo voltar desistiu de atacá-la. Imediatamente recolheu o tricerátopes, o pássaro gigante e sua capa de super-herói.
- Tá bom mamãe! Respondeu com uma vozinha doce de criança.
Somos todos assim. Usamos a armadura da raiva para esconder que somos pequenos e carentes. Basta um pequeno gesto de carinho para que toda couraça se transforme em abraço daqueles que dizem: "Nunca mais me deixe aqui sozinho, porque eu sofro sem você".