quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A MONTANHA

A MONTANHA

*MMendes

Chegar próximo aos cinqüenta anos de idade é para mim como chegar ao cume da montanha. Tanto posso contemplar o caminho de vinda, quanto o vale e o horizonte que se perde a frente. Dá vontade de agradecer cada passo consumado, cada gramínea, cada galho e raiz que me amparou no caminho escorregadio e pedregoso. Como é bom chegar aqui em cima e descansar um pouco, esboçando um sorriso de conquista. A fadiga das pernas e dos braços é como recompensa pela vitória. Olhando abaixo posso ver uma legião de caminheiros como eu, em romaria, desenvolvendo jornada ao encontro das coisas mais altas. Conquistar a montanha é a ambição de todos, embora vejo que muitos desistem no meio do caminho.

Estar aqui é estar mais próximo das coisas de Deus. Aqui em cima o ar puro da montanha alimenta a alma, a brisa refresca e alivia as dores. Dá vontade de parar, montar um acampamento, fazer uma fogueira e passar a noite enamorado da lua. Olhando para o céu vemos como a montanha é pequena. Para alcançar as estrelas não basta caminhar e subir é preciso voar, para além das nuvens de algodão.

Quando anoitece as luzes da cidade cintilam como as estrelas, misturando o céu o a terra. Dá sensação de flutuarmos no espaço. Os carros transitando pela estrada lembram estrelas cadentes riscando a escuridão.

Retiram-se as estrelas, a noite cede à alvorada. Um nevoeiro denso envolve o pé da montanha. Dá impressão que a montanha foi elevada ao céu. Parece possível caminhar sobre as nuvens. O sol surge no fim da linha do destino, esforçando-se para ver a lua de relance. Sua luz é plena, o calor dissipa o nevoeiro. A montanha volta para a terra. Posso ver a encosta, o caminho de descida e o vale verdejante de rios espraiados.

É preciso descer, há novas coisas para aprender, novos amores no ar. Acredito que será como se a vida andasse na contra-mão do tempo, girando seus ponteiros no sentido reverso. Subi a montanha com a ambição de me tornar um homem. Agora desço a montanha na esperança de me reencontrar criança, rir de qualquer coisa, riso solto, rir da vida. Brincar muito, brincar até cansar e, no final do dia, como quando eu era criança, dormir um sono profundo no colo e nos braços da mãe terra.

Um comentário:

  1. Marco ,quanta sabedoria,quanta inspiração divina.Você é um homem muito interessante e surpreendente,admiro tua alma inquieta e esse dilúvio de idéias e pensamentos.
    Obrigada por partilhar comigo seus anseios,suas dúvidas e suas certezas.
    Amo você.

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