segunda-feira, 10 de outubro de 2011
Mais só que só
domingo, 24 de julho de 2011
Pai e Filha
sexta-feira, 8 de julho de 2011
TATUAGEM NA ALMA
segunda-feira, 4 de julho de 2011
DIA DOS NAMORADOS
DIA DOS NAMORADOS
* Por MMendes
Naquele escurinho premeditado, um casalzinho namorava no interior do veículo. Tentativa de um beijo aqui, de um abraço ali:
- Cuidado com meu cabelo Jorge Antônio. Você está me desarrumando toda!
- Jorge Antônio, amanhã comemora-remos um ano de namoro. Qual vai ser meu presente?
- Já sei. Eu quero uma pulseira de brilhantes de pedras selenitas...não, não, acho melhor um par de brincos de brilhantes marcianos ou seria melhor um belo vestido modelável supercondutor de energia da e-tecidos, para carregar meus “gadgets”? Ah! Jorge Antônio, o que é que eu vou ganhar?
- Amanhã vou acordar cedinho e vou às compras. Já me vejo glamurosa pelas calçadas deslizantes do shopping. Depois vou para o SPA...uma sessão de massagens relaxantes, manicura a laser, determatologia rejuvenescedora, nanolipoaspiração instantânea e, por fim, cabeleireiro com tintura de fios fotográficos. De noite vamos a um bom restante comemorar nosso primeiro ano de namoro. Minhas amigas vão remoer de inveja.
- Ah! Jorge Antônio, não me mate de curiosidade. Qual vai ser o meu presente?
Enquanto Manoela falava sem parar, Jorge Antônio cruzava os braços olhando para o vazio.
- Jorge Antônio! Você nem prestou atenção ao que eu disse. Deu um beijinho no namorado, abriu a porta, saiu do automóvel de flutuação antigravitacional e subiu a escada rolante de sua casa.
No dia seguinte, logo pela manhã o videofone toca. Manoela atende e fica atônita com a notícia:
- O Jorge Antônio envolveu-se em um acidente? O corpo está no crematório? Pegar os restos viventes? Já estou indo.
Manoela é avisada de um gravíssimo acidente envolvendo seu namorado. Ele teve o corpo mutilado de forma irrecuperável, ou quase. Depois de extraído o código do DNA, seu corpo foi cremado. Diferentemente da cremação de nossa época, em que os parentes recebem uma urna com as cinzas do morto, a moça assistiu a cremação e saiu de lá com o repositório cerebral de seu namorado. O cérebro de Jorge Antônio boiava dentro do repositório, olhos atentos. Pareciam olhos de siri observando mudo a tudo o que se passava.
No tempo de Jorge Antônio a medicina avançou ao ponto de que, mesmo sem um corpo seja possível uma perfeita preservação da mente, até que se produza um novo corpo. Técnicas inovadoras de reprodução clonada de crescimento acelerado permitem que em poucos meses seja produzido um novo corpo, idêntico ao anterior o qual receberá a mente. Enquanto isso, a mente fica armazenada no cérebro acondicionado num repositório cerebral oxigenado, esperando o novo corpo para ser implantada. Para que a mente não caia em estado depressivo, os cientistas extraem os olhos e ouvidos do paciente juntamente com o cérebro, conectados por meio do nervo ótico e auditivo respectivamente. Não fosse essa técnica revolucionária, a mente ficaria vagando numa espécie de limbo, em completa escuridão e solidão, desprovida de todos os sentidos da percepção.
Em 2100 a técnica da preservação da mente será coisa muito comum, mas para os viventes de nossa época atual ver uma coisa dessas é muito bizarro. Poderíamos dizer que a mente imersa no repositório, assemelha-se a um “grande molusco” com antenas, um tipo de caracol sem concha, vivendo dentro de um aquário.
Naquela manhã fatídica, Manoela não pode ir às compras, nem ao SPA ou ao cabeleireiro e, ainda por cima, ganhou o cérebro de Jorge Antônio como presente de um ano de namoro. Mesmo assim, a moça prossegue no cumprimento dos itens planejados. Decide levar o namorado, ou o que sobrou dele, para um jantar romântico.
Depois de horas folheando os vestidos no guarda-roupa tecnológico, escolheu um vestido de grife, um sapato de salto da Louis Future, improvisou o cabelo na impressora pessoal de penteados, maquiou-se, empetecou-se com jóias, tomou o repositório cerebral de Jorge Antônio nos braços e saiu imponente a caminho do restaurante.
Chegando lá foi atendida pelo recepcionista cibernético. Manoela logo foi reconhecida pelo robô, que a identificou pelas ondas positrônicas emitidas pelo “chip” implantado em seu braço direito.
- Seja bem vinda senhoria Manoela. Disse o robô com seu sotaque enlatado. Enfim, o futuro resolverá o problema do atendimento ao cliente. Evoluiremos para descobrir que seremos mais bem atendidos por máquinas que por pessoas. O bom atendimento compensará, de certa forma, o desemprego. Programados para serem amáveis com os clientes, os robôs terão como característica marcante a presteza, a simpatia e a gentileza.
Manoela nem se deu ao trabalho de agradecer o amável serviçal robótico. Afinal, era humana. Ela o considerava um ser inferior, um mero objeto, uma simples máquina. Com certeza ele seria descartado, substituído daí alguns anos por outro mais avançado.
- Tá vendo o que você foi arrumar Jorge Antônio. É incapaz de puxar a cadeira para mim. Deixei de ir ao SPA, ao cabeleireiro e de me produzir por sua culpa. Meu cabelo está péssimo, nem tive tempo de me arrumar direito. Agora fica ai me olhando com esses olhinhos de piedade.
Nesse momento aparece uma das frívolas amigas de Manoela:
- Oi querida, como tem passado?
- Olá Jorge Antônio, fiquei sabendo do acidente. Mas, não se preocupe, em pouco tempo terá um corpinho novo em folha.
- Querida você não sabe da última... e blá, blá, blá, blá, blá, blá. Você viu o cabelo da Matilde, que horror. E mais blá, blá, blá, blá, blá, blá.
Jorge Antônio ficou ali, prisioneiro ouvindo aquele monte de futilidade. Chegou a pensar que seria melhor ter morrido no acidente ou pelo menos perdido as orelhas para não escutar tanta banalidade. Ele queria curtir a noite, falar de amor e fazer planos para o futuro. Procurava uma mulher sincera, amável e amiga, embora em primeiro lugar estivesse a qualidade de perfeita amante. Procurava expressar isso com os olhos e até abanava as orelhas. Todavia, Manoela estava perdida num mundo de luxuria e consumo, não poderia compreendê-lo.
-Tchau querida, nos vemos depois. “Bye bye” Jorge Antônio, até a próxima encarnação.
Enquanto a amiga de Manoela passava, os olhos de Jorge Antônio acompanharam aquele fabuloso rebolado, cadenciado por grossas pernas, sustentado num par de saltos.
- Jorge Antônio, seu cretino. Não tem vergonha? Ficar paquerando minha amiga na minha cara? Tenho vontade de te esganar.
Furiosa, Manoela estrangula a mangueira do oxigenador do repositório cerebral, asfixiando Jorge Antônio. Mudo, com os olhos esbugalhados, pediria socorro se pudesse. A falta de oxigenação provocou um aumento de gases do repositório fazendo subir a pressão. Lançado pelo orifício da válvula de segurança, esguichou um jato aquoso do líquido de conservação do interior do repositório acertando Manoela, que ficou completamente encharcada.
- Seu mal educado. Para mim basta. Eu te odeio seu...seu...seu cérebro machista.
Jogando o guardanapo na mesa, Manoela saiu do restaurante pisando duro, para nunca mais voltar. Estava tudo acabado. É mesmo muito difícil ver o que se passa na alma das pessoas. Jorge Antônio buscava um grande amor. Ficou ali sobre a mesa, mudo, solitário, pensativo. Quase morreu para aprender a lição. Desprovido de seu corpo, prometeu que escolheria sua nova namorada pelas qualidades internas, não só pelos atributos do físico feminino.
Um pouco antes de o restaurante fechar as portas, os funcionários começaram a arrumar mesas e cadeiras. Sem premeditar, um garçom colocou o repositório de Jorge Antônio em frente a outro repositório cerebral, também abandonado numa outra mesa. Na verdade o trabalhador apenas queria organizar o lugar antes de fechar, mas foi como se o destino guiasse seus braços.
Os empregados saíram apagando as luzes e fechando as portas. Na penumbra os dois desconhecidos guardados em seus repositórios ficaram um de frente para o outro. Admiravam-se como almas gêmeas. Passaram a noite entreolhando-se sem nenhuma palavra. Pareciam trocar pensamentos, um mirando o outro, como se quisessem entrar um no outro pela pupila dos olhos. Se alguém pudesse vê-los teria a nítida impressão de verem dois seres apaixonados, uma paixão platônica.
No dia seguinte, o dono do restaurante mandou devolver cada repositório à sua respectiva família. Passado alguns meses, Jorge Antônio ganhou seu novo corpo clonado. Restabeleceu-se por completo e retomou sua vida. Contudo, o olhar da misteriosa companhia ficou guardado em sua memória. Não sabia quem ela era ou onde morava. Ele caminhava pelas ruas da cidade procurando aquele olhar nos olhos das pessoas que cruzavam seu caminho, na esperança de um dia reencontrar sua cara metade.
sábado, 4 de junho de 2011
A MOSCA E A ARANHA
quinta-feira, 28 de abril de 2011
BOM DIA AMIGO
BOM DIA AMIGO
*Por Marco Mendes
Num dia desses em que nos sentimos vazios de amor e abandonados, decidi caminhar num parque próximo de casa. Tirei o terno e a gravata, vesti um velho tênis, bermuda e camiseta, coloquei um boné e sai de casa em busca de alguma coisa, um motivo qualquer. Era de manhã, o dia estava claro, repleto de nuvens brancas de outono pastando como carneiros no céu.
Com a alma em frangalhos ingressei no parque pelos portões laterais que dão para um belo lago. Iniciei a caminhada no sentido anti-horário, contrário ao fluxo de pessoas que por ali caminhavam. Eu estava mesmo do avesso, do contra, sem chão e sem céu. As primeiras pessoas que cruzaram meu caminho, duas mulheres idosas, lançaram um breve cumprimento matinal:
- Bom dia!
Eu respondi ao cumprimento por educação, mas minha vontade era de continuar mudo e cego, focado em meus problemas inexprimíveis. Sem interromper a marcha prossegui reflexivo, quando logo mais adiante um senhor também lançou seu cumprimento:
- Bom dia!
Respondi por impulso e continuei em frente com passos rápidos. Durante os quase cinco mil metros percorridos pela pista, cercada de uma mata exuberante, repleta de espécimes de animais nativos, tucanos, araras e capivaras, todas as pessoas que passaram por mim me desejaram “bom dia”, mas mesmo assim sentia o dia péssimo.
No final da caminhada, acho que melhor oxigenado pelo sangue que circulava fluentemente pelo meu corpo, uma voz interior interrogou-me:
- Sente-se só meu amado? Cumprimentei-o tantas vezes? Vi palavras saindo de sua boca, mas de sua alma nenhuma expressão.
Senti um calafrio nesse momento. Haveria algo ou alguém que era comum a tudo aquilo que me rodeava, um ser único e indivisível que estivesse em todas as pessoas ao mesmo tempo, unipresente, capaz de travar uma conversa comigo? Deus falou comigo? Não sei dizer se era o Deus da Vida ou meu lado divino, mas alguma coisa me tocou profundamente naquele dia.
Caminho nesse parque todos os dias, algumas pessoas me cumprimentam, mas nunca havia acontecido de todas as pessoas que encontrei terem me cumprimentado com um “bom dia”. Um sentimento de paz e acalento preencheu meu vazio. Afinal percebi que não estava só, apenas me sentia só. Renovado, como quem acabou de tomar um banho morno depois de um trabalho fatigante, gritei bem alto sobre as águas do lago do parque:
- Bom dia a tudo que me rodeia, a todos os que me cumprimentaram!
Voltei outras tantas vezes ao parque, mas nunca mais aconteceu aquilo, de todas as pessoas que cruzei me cumprimentarem. Mas não importa, eu sei que nunca estou sozinho. Daquele dia em diante, por onde passo, uso meu coração e minha boca para agradecer a vida, desejando a cada pessoa que encontro, um bom dia.
O MENINO QUE DESAFIOU A MORTE
- Vamos, vamos. Hora de ir para a cama.
- Ah mãe! Me deixa jogar um pouco mais de videogame. Eu tô no meio de uma batalha.
- Não senhor. É hora de ir para cama. Amanhã tem aula cedo. Desligue já esse videogame.
Com cara de contrariado o menino desliga o videogame e corre para o quarto, enquanto sua mãe corre atrás, numa de brincadeira de mãe e filho. Às gargalhadas o menino se joga sobre a cama e a mãe lhe envolve em beijos e abraços. A mãe arruma a coberta sobre o filho, lhe dá um beijo de boa noite e apaga a luz. Antes de fechar a porta o menino lança uma pergunta, retendo a mãe mais um pouquinho:
quarta-feira, 20 de abril de 2011
A MAGIA ESTÁ NO AR
Uma explosão emocionante de aplausos. A magia está no ar. Os artistas emprestam seus corpos para compor a mais bela emoção. Inesquescível: lágrimas, gritos, dança, amores; tudo de uma vez em um sentimento único, indefinível.... Mas logo a peça termina. As cortinas se fecham. A música se propaga e se perde no ar. Os aplausos cessam. A platéia se retira aos poucos. As luzes se apagam. Resta apenas eu em pé no escuro, sozinho. Os artistas e a platéia retomam as suas vidas, a magia fica na memória. E eu? Fico aguardando como se a qualquer momento as cortinas fossem se abrir, os artistas fossem voltar e a platéia sentar em seus lugares junto de toda a euforia e agitação. Mas não voltam. Cada peça é unica por si só. Os atos se iniciam, se desenvolvem e tem seu desfecho. O erro? confundir a vida com o teatro, fazer do palco o seu caminho e dos artistas a sua história. Se sentir saudades realmente for um erro, prefiro viver errando por amar a esse teatro, do que simplesmente virar as costas e retomar a vida. Pois a vida também é uma peça unica, com inicio, desenvolvimento e desfecho. E quando a minha peça acabar, não quero que a platéia simplesmente vire as costas e retome a vida, mas quero que o meu teatro seja incorporado no teatro de cada um que o presenciou. A magia não volta. Mas fica na lembrança, e das lembranças vive um homem.
sábado, 19 de fevereiro de 2011
Bailarina ao vento
BAILARINA AO VENTO
*MMendes
Escapas pelos vãos de meus dedos,
solta, livre como folha brincando,
bailarina, rodopiando ao vento.
Meus olhos de longe te seguem,
para nunca perdê-la de vista,
sempre preparado para acolher-te,
quando o redemoinho passar.
Nem notas o tempo fechado,
as rajadas e rumores da tempestade.
Brincas inconsequente de voar,
como corrias de mim quando pequena.
Meu coração desesperado para,
fitando teus arroubos de menina.
Sem palavras a vida segue em branco,
enquanto meu amor sofre silencioso.