segunda-feira, 13 de março de 2017

Pablito, é machismo?



PABLITO, é machismo?

*Por Marco Mendes

- Vovô, por que você deixou a mamãe aqui na escola?

- Ela faz faculdade de psicologia, meu querido Pablito. Respondeu o vovô.

- Ela está estudando para ser psicóloga, né vovô?

- Sim Pablito, ela vai ser formar e ser psicóloga.

- Depois que ela terminar de estudar ela vai trabalhar em casa ou fora de casa? Continuava Pablito

- Acho que vai trabalhar fora de casa. Respondeu ao netinho.

- Ah não! Eu não quero! Eu quero que ela trabalhe em casa. Protestou o menino.

- Mas como ela irá trabalhar em casa? Vovô questionou o netinho.

- No computador, ué!

A mamãe parece que arrumou um problema a ser resolvido. É que ela é defensora do feminismo. Não me entendam mal! Feminismo no sentido oferecer oportunidades de vida e divisão de tarefas dentro e fora da casa, de forma igual para homens e mulheres. E trabalhar fora em igualdade de condições com os homens no mercado de trabalho passa a ser uma dessas defesas. Mas parece que Pablito não está muito contente com essa ideia.

Um dos paradigmas fundamentais a serem quebrados pelo feminismo está justamente ligada ao conceito da maternidade. Maternidade no sentido de uma cultura segundo a qual as mulheres teriam um destino social de serem mães, donas de casa, cuidadoras da família e dos filhos. As feministas afirmam que a luta da mãe feminista é justamente ensinar os filhos homens que quando eles forem pais terão tanta obrigação de cuidar da casa e dos filhos quanto as mães.

O problema se torna complexo ao percebemos que os filhos pequenos estabelecem uma relação diferencial com a mãe. Desde o nascimento os dois estabelecem uma relação íntima e exclusiva, uma comunicação de contato, olhares e sutilezas que só eles sabem decodificar. Os sinais emitidos entre eles dão um significado ao amor que um sente pelo outro. E é por isso que o bebê adora estar pertinho e aninhado a sua mãe, afirma a psicóloga Regiane Glashan.

Sustentar convicções pessoais sempre farão inimigos, especialmente quando ferem os interesses alheios. Mas quando esse inimigo é o próprio filho, então a mãe tem um grande problema. Enquanto a mamãe defende o feminismo em contraposição ao paradigma social conservador da maternidade, Pablito, como um pequeno grande conservador, defende que em razão da maternidade a mamãe deva ficar em casa, ao lado dele! Que bela enrascada a mamãe se meteu.

O vovô acredita que Pablito não está dizendo que mulher deve trabalhar em casa. Está dizendo que ficar longe do contato da mamãe será muito difícil para ele. Por isso quer a mamãe em casa, pertinho dele. Esse é um problema que terão que resolver. O vovô aconselha mamãe e Pablito: Grandes problemas só podem ser resolvidos com um amor maior ainda.

terça-feira, 7 de março de 2017

Pablito, somos todos mortais

PABLITO, SOMOS TODOS MORTAIS

*Por Marco Mendes

Numa tarde de domingo Vovô e Pablito estavam passeando pela praça do bairro, quando o netinho veio com uma pergunta inusitada:

- Vovô, você já está meio velhinho?

- Um pouquinho velho, mas ainda não estou muito velhinho.

- Você vai morrer?

- Meu querido, um dia todos morreremos. Mas não fique preocupado, ainda temos muito que viver.

Fechando os olhinhos com rostinho de sofrimento Pablito abraçou as pernas do vovô e disse:

- Ah vovô, eu não quero que você morra, nunca.

Depois desse dia o netinho estava assistindo a um filme de família de 20 anos atrás e comentou:

- Vovô, por que você está tão diferente nesse filme?

- É porque eu era mais novo Pablito. Eu envelheci um pouco e mudei a aparência.

Para descontrair vovô disse que o netinho também havia mudado desde que nasceu.

- Somos mutantes Pablito, como aqueles do filme X-man.

Enxugando as lagrimas dos olhos com os dedinhos Pablito suplicou:

- Vovô, por favor, não fique diferente não.

- Você está com medo que o vovô fique muito velho? Perguntou ao netinho.

- Sim. Eu não quero que você fique velho não. Disse o menino quase chorando.

Pablito achava que morríamos só de velhice, até que escutou uma história de um bebê que havia nascido e falecido com 20 dias. Então interpelou a vovó:

- Esse nenezinho morreu também? Morreu como?

- Morreu porque tinha um dodói. Disse a vovó.

Apontando para um raspadinho do joelho resultado de um tombo no quintal, com os olhos arregalados Pablito perguntou:

- Vovó, eu tenho um dodói no joelhinho. Vou morrer também?

- Não meu amor. Você não vai morrer não. O dodói daquela nenezinha era um dodói enorme. O seu é pequeninho.

Aqui caiu a ficha da criança. Não morremos só de velho! Com essas descobertas desandou a perguntar o paradeiro de alguns parentes que ele sabia, ou pelo menos intuía, que já haviam morrido:

- Onde esta aquela tia que tinha uma gata?

- Morreu. Disse a vovó.

- E a sua mãe vovó?

- Morreu também.

- E a mãe do vovô?

- Também já morreu.

- E o pai do Romeu, nosso cachorrinho?

- Esse também morreu.

- E você vovó, vai morrer também?

- Sim meu querido. Um dia morrerei. Mas não fique assim tão aflito, isso vai demorar muito tempo.

Passados uns instantes ele lançou o grande desafio:

- Mas vovó, você precisa mesmo morrer vovó?

Pablito levantava uma complexa questão transcendental: Diante da inexorável morte, o que podemos fazer para herdar a vida eterna?

Fico aqui pensando como nós humanos nos preocupamos com aquilo que sequer podemos evitar. Para quê preocuparmo-nos com a morte? A vida tem tantos problemas que temos de resolver primeiro, disse Confúcio.

É verdade que um dia morreremos. Mas morremos um dia só, nos outros todos nós vivemos. Quanto de vida há numa fração de minuto? Mil beijos eu te darei, meu netinho, se encostares teu rosto ao meu um só segundo.

E tua gargalhada de criança arrancada pelo roçar da minha barba mal feita contra teu rostinho de menino nunca mais sairão das retinas dos meus olhos e nem se apagarão das lembranças de minh’alma. Ainda que eu vivesse um só minuto, desde sempre serei eu o avô mais feliz do mundo.

A você meu querido, um segredo vou contar. Há mais de mim em você do que você pode notar. Toda vez que sentires solidão, tristeza ou dificuldade, eu virei, de onde estiver, é só me chamar. Não precisa gritar alto, fazer gestos de invocação. Basta ficar em silêncio e eu ouvirei teu clamor pelas batidas do teu coração.

Lembre-se que temos a eternidade de todas as horas que nos restam e como disse Mario Quintana “tão bom morrer de amor! E continuar vivendo...”. Quando eu me for você ore por mim, quando chegar a tua hora eu te reencontrarei.