terça-feira, 20 de novembro de 2012

O amor inesperado


O AMOR INESPERADO
* Marco Mendes

Hoje estou vazio, doei tudo a quem mais precisava. Nada sobrou para mim, perdoei todos os que me deviam. Hoje olhei para os outros, muito mais que para mim. Hoje agi, muito mais do que falei (e olha que eu gosto de falar!). Hoje me entreguei, sem nada em troca exigir. Hoje eu parei, estacionei. Acho que não há mais para onde ir, sinto que já cheguei, construí um novo olhar. A partir daqui nascer de novo, reaprender a andar.

A notícia me tomou de surpresa e me esvaziou. Não sabia o que dizer e queria não pensar. A notícia me invadiu e remexeu lembranças e sentimentos com violência. Me vi no meio do nada rodeado por bolhas de memórias que flutuavam a minha volta. Percebi que eu estava fora de mim, fora do tempo, sem chão e sem teto. A notícia me derrubou, cai das pernas e meu corpo lá ficou. Um espírito me invadiu, me acalmou, me consolou. Esse espírito me preencheu e anunciou a chegada de algo inovador. Algo que tiraria meu conforto e me faria sair da posição de onde estou. Eu aceitei, me levantei, postei-me diante dele e proferi: "Seja feito, assim. Serei intrumento desse amor".

Ele veio como o inesperado, caminhando leve pé ante pé, na aurora rompendo a noite, chegando manso como o dia. Batendo as portas do coração, presenteando-me com o milagre da vida. Com os braços abertos te recebo com muita alegria. Dar-te-ei abrigo nesta moradia. É o próprio Deus quem chega, pelo portal de abril em Maria, com braços estendidos, espero, abraçar a vida que Deus cria.

O cheiro do Natal


O CHEIRO DO NATAL
* Marco Mendes


Uma curiosa esperança pairava no ar. Uma promessa de presente se espalhava, ainda que a garantia fosse apenas a presença das pessoas, a reunião da família, que espargia alegria contagiante e inebriava o olhar. O som de harpas cristalinas perfumavam o mês de dezembro, exalado do velho rádio de válvulas que ficava sobre a cristaleira. Havia mesmo um cheiro novo no ar, um cheiro de Natal a gritar.

A religiosidade enfeitava os corações, afagava o ano difícil, com a promessa de que, uma nova luz estava prestes a brilhar. As Três Marias passavam a noite pelo céu a orar, clamando por caridade acolhedora, que partilhasse a felicidade com os mais pobres, para suas dores ajudar a refrear.

Nas memórias da infância guardo aquele cheiro extraordinário, perfume especial que sinto, quando o Natal está para chegar. Ainda olho para o céu do mês de dezembro, para ver as Três Marias passarem em prece, sem pressa, orando para que os homens não deixem essa magia acabar. Agora adulto e maduro que sou, por quase um mês a cada ano, no mês de dezembro, ainda sinto um cheirinho de Natal pelo ar. Nesse mês meu coração de criança volta a pulsar. Aos meus filhos, ensinei a alegria e dividi o prazer de presentear felicidade como forma mais pura de amar.

Seja por coincidência, obra do destino, quiçá providência divina, neste ano haverá ainda mais Natal em minha casa. Segui uma estrela errante que pairou sobre minha morada. Minha filha, que de fato se chama Maria está grávida, esperando dar à luz um menino.
Acho que agora sou uma espécie de rei mago trazendo proteção, amor e segurança. Minha casa está com uma forte fragrância de Natal a nos perfumar.

Matemática do amor


MATEMÁTICA DO AMOR
* Marco Mendes


Na mansidão,
Se deram as mãos.
Entre olhares
Invadiram-se,
Chegaram ao coração.
Dividiram-se,
Somaram-se,
Multiplicaram
Até chegar a três.
No quarto se abraçaram,
Até chegarem aos oitenta.
Um deles se foi,
O outro chegou aos noventa.
Ao infinito entregaram-se,
E viveram eternamente juntos.