A FERA
Por MMendes
De repente começou uma barulheira na sala da chefia. A secretária assustada caminhou pé ante pé até a porta, encostou levemente a cabeça na porta e ouviu um terrível grunhido animalesco e um quebra-quebra sem fim. Desesperada saiu gritando pelo corredor:
- Socorro! Socorro! Uma besta entrou na sala do chefe.
Os funcionários daquela empresa saíram de suas mesas para ver o que acontecia. Um grupo temeroso aproximou-se silenciosamente do local.
- O que está acontecendo aqui? Perguntou o Sub-chefe.
- Algum animal entrou na sala do chefe e está quebrando tudo o que há. Disseram os presentes.
Ninguém tinha coragem de abrir a porta e enfrentar a fera.
- Acho melhor chamar a polícia. Disse o supervisor.
- Eu chamaria os bombeiros. Aventurou um outro.
Desesperados os funcionários se perguntavam:
- Que terrível animal será esse e como teria entrado na sala do chefe?
- Como vamos tirá-lo de lá? Entreolhavam-se escandalizados.
Um silêncio firmou-se no interior da sala e os funcionários o imitaram pela lado de fora. Cruzavam seus olhares, levantavam os ombros gesticulando como se nada pudessem entender.
- Seja lá o que for, acho que saiu pela janela. Disse a faxineira.
- Veja lá, não diga asneiras! Estamos no quinto andar do edifício! Disse sua colega de serviço.
Nesse instante uma nova zurrada seguido de muito quebra-quebra.
- Alguém sabe do paradeiro do chefe? Perguntou o supervisor.
- Ele estava em seu gabinete despachando. Depois de um tempo surgiu um cheiro de estrume, ouvi uma zurrada e começou o quebra-quebra. Respondeu a secretária.
- Precisamos tomar uma providência. Eu vou entrar. Disse o sub-chefe.
- Espere um pouco meu senhor, não cometa imprudência! O animal pode ser muito perigoso. Disse a secretária.
- Vá até o almoxarifado, traga um capacete, um par de luvas de raspa e um porrete para que se possa enfrentar a fera. Acrescentou o supervisor.
Um passo aqui outro acolá o contínuo trouxe os apetrechos, ajudando o sub-chefe a vestí-los. Temeroso e com extrema cautela, lentamente o supervisor avançou em direção à porta. Suas pernas tremiam à medida que os ruídos misteriosos aumentavam. Mas a coragem o mantinha firme. Lançou sua mão esquerda na maçaneta segurando o porrete com a outra mão. Abriu a porta lentamente e teve uma visão aterrorizadora. O chefe estava sobre a mesa soltando coices para todos os lados, zurrando sem parar. A sala estava cheia de estrume num odor insuportável. O supervisor fechou a porta novamente e disse espantado para a grupo de funcionários:
- O chefe enlouqueceu!
- Mas é o terceiro caso no prazo de seis anos. Coisa parecida aconteceu com os dois chefes anteriores. O que vamos fazer a respeito?
Os funcionários entreolhavam-se assustados e não sabiam direito o que fazer.
- Vamos entrar e prendê-lo até que os médicos venham prestar socorro.
O contínuo desceu até o subsolo e pegou uma corda para amarrar o chefe enlouquecido. Mas quando entraram na sala:
- Cruz credo! Que aberração é essa? Parece coisa do demo!
Para surpresa de todos, encontraram um burro de verdade, vestindo terno e gravata, soltando coices e zurrando sem parar. Por algum motivo incompreensível o chefe virou realmente uma besta. Os funcionários laçaram o bicho que babava e escoiceava. Arranjaram uma pequena jaula e o prenderam.
Os funcionários estavam abismados com tudo aquilo e começaram a se perguntar que força satânica teria sido capaz de transformar o chefe numa besta. Um pensamento coincidente passou pela mente de todos, como um aviso dos céus. Disseram ao mesmo tempo:
- A cadeira do chefe!
- Só pode ser isso! Essa cadeira é amaldiçoada e tem poderes demoníacos capazes de enlouquecer as pessoas e transformá-las em bestas.
- Vamos queimar a cadeira. Disse o mais exaltado.
A multidão lançou-se sobre a cadeira despedaçando-a em segundos. Fizeram uma pilha de lenha e atearam fogo. Enquanto a cadeira queimava os funcionários ficaram assistindo e o burrinho chorava preso dentro da jaula, como se chora a morte da amada.